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VIAJARAM MAIS CEDO
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ESPÍRITOS DIVERSOS
Sumário
- Viajaram mais cedo
- Djalma Pompeu de Camargo Rangel
- Evaldo Zamboni
- Giovanna Motta
- Heitor José Morina
- Joaquim Afonso Carvalho
- Luíza Corrêa Jardim
- Mauro Augusto Cacique Andrade
- Nelly Ferreira
- Raul Pinheiro Torres Júnior
- Renato José Sorrentino
- Ricardo Carvalho de Mello
- Simone Couceiro Horcel
- Tibério Graco Dias
VIAJARAM MAIS CEDO
Leitor Amigo:
Este livro é um conjunto de noticias e instruções de companheiros ainda muitos moços, na vida física, que regressaram justificadamente mais cedo à Vida Espiritual, mais cedo do que se esperava no campo domestico em que renasceram.
***
Por que mais cedo? Indagarão muitos amigos.
E diremos que isso aconteceu em razão dos pedidos deles mesmos, gente verde, mas de inteligência amadurecida, que aspira a complementar o resgate de débitos contraídos em passado remoto ou recente, a fim de entrar quite com a lei da Causa e Efeito, nos caminhos do Terceiro Milênio da Era Cristã, prestes a surgir.
***
Desejando compartilhar do trabalho e da esperança que nos acenam do século XXI, solicitaram das autoridades superiores a concessão de breve período na existência terrestre, de modo a voltar ao cenário humano, nos primeiros tempos do século vindouro, de coração lavado e alma limpa.
***
Nobres equipes de servidores juvenis que retornam hoje à Espiritualidade e que, de futuro, estarão, na maioria, corporificados novamente na terra, cooperando na construção e reconstrução do Mundo Melhor.
***
Saudemos esses amigos que escolheram, por vezes estradas de acesso à renovação intima e, regozijando-nos com os exemplos de fé viva e decisão de que oferecem testemunhos e que nos proporcionam valioso estimulo para trabalhar e servir na Causa do Bem, peçamos ao Senhor Jesus a todos nos inspire e nos abençoe.
Emmanuel
Uberaba, 27 de maio de 1985
DJALMA POMPEU DE CAMARGO RANGEL
SANTOS (SP) – 07 de outubro de 1960
SANTOS (SP) – 16 de novembro de 1981
Religioso, de formação espírita, tinha, Djalma, em sua cabeceira, o Evangelho Segundo o Espiritismo, que compulsava diariamente.
Gostava de motores e estudou até o terceiro ano ginasial.
Filho bondoso, ajudava muito os que lhe batiam à porta, com conselhos e cooperação material, sobretudo de alimentos, a famílias carentes.
Muito quieto em casa, nos últimos trinta dias que antecederam o acidente, tornou-se mais quieto ainda; certa feita confessou ao pai que já estava um pouco cansado de viver, que já havia feito tudo o que tinha de fazer.
Rompeu inexplicavelmente o noivado no dia do acidente que o vitimou.
Filho único do casal, Sérgio Salgado e Maria Helena de Camargo Rangel.
Para mim, as palavras do Djalma significaram a continuação da vida, porque não tinha mais sentido viver.
Lendo, relendo as mensagens do querido filho, fui compreendendo que a vida continua.
Dirce (*) foi uma luz no meu caminho; ajudou-me muito e, por suas mãos, chegamos a Uberaba.
(*) Dirce Pessoa da Silva Lourenço, residente em Santos, genitora do Tato, Carlos Alberto da Silva Lourenço, co-autor de Jovens no Além, Somos Seis e Venceram, livros editados pelo GEEM. Carlos Alberto é citado na mensagem do Djalma.
D. Dirce é incansável lidadora da Doutrina Espírita em Santos, consolando e orientando familiares que temporariamente se viram colhidos pela separação de filhos queridos.
Maria Helena de Camargo Rangel
Mensagem
Querida mãezinha e meu caro pai Sérgio, peço-lhes me abençoem.
Estamos efetivamente tão juntos nas tarefas do bem, nas quais Jesus nos confiou encargos e bênçãos que nos alegram tanto, que entendo seja desnecessário um comunicado assim formal de minha parte.
O nosso amigo Carlos Alberto me favoreceu com a oportunidade de transmitir vários recados aos pais queridos e tenho, graças a Deus, aproveitado todas as ocasiões que se me apresentam, a fim de fazer-lhes sentir a continuidade de minha presença e de meu afeto.
Compreendo, apesar de tudo, que desejariam noticias tão minudenciadas quanto possível, sobre a minha transferência de plano e aqui estou, na satisfação de abraçá-los, juntamente de nossa irmã Dirce e tantos amigos outros, tentando comunicar-lhes a certeza de que não sofri tanto como se imagina.
Sabem em que alto grau de estima conservava a moto que se me fez amiga para todos os momentos de trabalho ou mesmo de entretenimento com os irmãos de ideal e de lutas e, por isso, compreendem que não me expressaria, no sentido de lastimar a minha condução preferida, que não teve culpa na ocorrência de novembro, daquele novembro que passou, nos 1981, em que me preparava para as alegrias do Natal com a maior atenção.
Meus pensamentos estavam tranqüilos e eu comandava a maquina sem qualquer excesso de que deva me penitenciar.
Tudo bem, no entanto, praticamente, conquanto tivesse conhecimento dos cuidados do meu pai Sérgio, a meu respeito com o veiculo, desconhecia o fato de seguir sob a vigilância carinhosa dele, naturalmente, buscando qualquer senão de minha parte ou de parte do meu cavalo de engrenagens complicadas, no propósito de nos corrigir sem alarde, em apoio do meu próprio bem-estar. (1)
(1) O pai ocasionalmente o acompanhava, sem que o filho soubesse. Confirma que Djalma dirigia a moto com muito cuidado.
Imaginava justamente que nos achávamos todos naquela fase do ano em que o tempo se enfeita para atravessar o período das Festas do Natal e do Ano Novo, quando um carro atravessou à minha frente, impedindo-me o prosseguimento da marcha.
O choque foi muito grande, porque me vi atirando fora, à feição de alguém que fosse pisoteado por um potro bravo e não sei de que modo conservava a cabeça intacta nos ombros.
Não acredito que os acidentados tenham consciência imediata do que lhes ocorre, porque somos os protagonistas de um inesperado espetáculo de sofrimento que atrai a atenção de quantos se nos acercam da posição menos feliz.
Uma explosão que me arremessasse para longe, cegando-me a visão e conturbando-me o cérebro, não me causaria tanto espanto mesclado de aflição.
Tempo não tive para qualquer raciocínio, mas percebi, no auge de meu assombro, que era o próprio pai Sergio a me tomar nos braços, de maneira a conduzir-me para o socorro preciso. Sentia-lhe o calor das mãos, o hálito de bondade e os braços a me resguardarem de encontro ao peito, enquanto vozes anônimas se faziam ouvir opinando, gritando e proferindo exclamações que registrava sem captar-lhes o sentido...
Aquele apoio imprevisto me reconfortava. Quis falar, no entanto, era isso impossível.
Uma força que não consigo explicar me imobilizava de todo, embora o meu querido protetor me mostrasse a própria ternura nos batimentos acelerados do coração...
Desejei revelar a minha capacidade de movimento; se fiz algum, isso aconteceu à revelia de meu conhecimento, porque, naqueles instantes finais do corpo físico, eu me reconhecia de modo indefinível...
Apenas minha cabeça me parecia viver e, assim mesmo, na condição de uma chama a se extinguir...
Entreguei-me, de todo, à idéia de que o pai amigo velava por mim, enquanto me apagava, e a convicção de que me achava sob proteção segura me asserenava o intimo atribulado. (2)
(2) Foi socorrido pelo pai.
Por um momento só, pensei na Mãezinha, no amigo Sr. Aguiar (3) que me aguardaria no Iate, mas isso foi uma idéia relampagueante que me entregou, para logo, a um torpor estranho que admiti fosse um sono temporário.
(3) Patrão do Djalma, no Iate Clube de Santos, onde trabalhava como mecânico náutico.
Dormi, quase calmamente, se posso dizer que o carinho do pai a transportar-me era o maior fator de possível equilíbrio que eu conseguisse demonstrar...
O sono me pareceu uma descida a diversos degraus de inconsciência, porque ainda hoje, procurando recapitular aqueles minutos inesquecíveis, ignoro todas as particularidades do fenômeno de que me via objeto, sem a mínima idéia das horas ou dias que despendi naquela ausência de mim mesmo; despertei num aposento amplo, retomando gradativamente a memória...
Sabia que meus olhos estavam abertos, entretanto, por dentro de mim, era difícil aquela contagem de tempo em regime de recessão.
Indagava de mim mesmo se estaria em algum hospital de emergência e esforçava-me por lembrar...
Não conseguia vencer aquele branco enorme que me separava das ultimas recordações...
A moto abalroada, a queda aflitiva, as considerações dos populares que passavam a me cercar e, depois, quase que de imediato, os braços do pai Sérgio a me envolverem de apoio e reconforto...
Uma senhora de fisionomia serena abeirou-se de mim e sorriu, perguntando por meu estado de espírito...
A principio, o dialogo foi difícil.
Mentalizo as idéias primeiras que me afloraram ao cérebro abatido...
Pedi me restituíssem à nossa casa onde a mamãe me esperava com o pai amigo que me assistira; falei de minhas obrigações e compromissos de trabalho em Guarujá e do meu desejo de reaver a moto para qualquer conserto que se fizesse preciso...
A senhora (4), porém, que eu supunha fosse uma enfermeira-chefe da instituição em que fora internado, me falou com brandura, acalmando-me os sentimentos de rapaz que nada queira com a morte...
(4) Senhora: Maria Regina Pezenatto, bisavó materna, desencarnada em 1966.
Muito delicadamente, se referia á vida diferente a que fora transportado e conversou com carinho, induzindo-me a aceitar a nova realidade em que estava vivendo sem maior experiência do assunto. Quando notei que ela se reportava á minha avó Elvira (5) com intimidade de mãe a informar-me que guardava a mãezinha e a vovó no coração, passei a reconhecer que não dialogava com uma pessoa desconhecida...
(5) Elvira Pezenatto Moura, avó materna, residente em Santos.
O resto poderá imaginar...
A febre da inconformação me dominou por vários dias, até que aceitasse a nova condição de existência a que fora conduzido violentamente e, somente ai, no reequilibrio indispensável, entendi tudo e tudo aceitei, a fim de atingir as melhoras de que necessitava.
Pude, então, voltar ao ambiente domestico e compartilhar das lagrimas dos pais queridos que eram igualmente minhas...
Outros amigos vieram com o meu avô Pompeu (6) buscando recuperar-me o otimismo e a autoconfiança; o nosso Carlos Alberto, o nosso Tato de Deus, veio ao meu encontro e, assessorado por outros amigos, pude rogar em pensamento à Mãezinha Maria Helena e ao querido pai Sérgio se voltassem para um campo de esperança e consolação, no qual configuramos a casa do mentor Henrique Seara. (7)
(6) Avô Pompeu – Faleceu em 1947, Nome idêntico ao do neto, Djalma Pompeu de Camargo Rangel.
(7) Medico de Santos, já desencarnado, Patrono Espiritual do Centro Espírita Henrique Seara.
Notando que os pais dedicados me ofereciam mãos abençoadas ao novo trabalho, em que o apoio aos necessitados é o nosso objetivo, adquiri melhoras inesperadas que me transformam hoje no filho agradecido e companheiro de ação constante na lavoura do bem.
Agradeço aos pais querido quanto fazem a meu beneficio, estendendo os braços acolhedores aos que sofrem problemas maiores do que os nossos, e continuo acalentando ideais e aspirações que me falam alto ao mundo intimo...
Muito grato à nossa irmã Dirce, que nos incentivou a procurar no trabalho em favor de nós mesmos o esquecimento de nossa personalidade para assimilarmos, por dentro de nós, as dificuldades e as lagrimas alheias, a fim de saná-las, quanto se nos faça possível, e sinto-me a caminho de grandes renovações.
Pais queridos, muito grato, estou melhor e mais forte.
Lutando por meu reerguimento para o bem. Estou incorporado novas idéias da vida ao meu estreito campo de experiências pessoais e começo a perceber as existências da vida sob novo prisma...
É preciso esquecer-nos para sermos de Deus na pessoa do próximo e isso para mim representa hoje uma nova e abençoada verdade.
Agradeço ao querido Tato que me cede a oportunidade de falar, precisamente agora quando o aniversario dele está sendo lembrado, mas prometo que não estou a me comunicar em vão.
Colheremos novas forças de nosso contato com as realidades novas que vou compreendendo, aos poucos, e, com a bênção de Jesus, tudo vai alcançando a forma ideal de convivência com as nossas saudades juntas.
Querida Mãezinha, não posso prolongar-me e aqui encerro, beijando as suas mãos, com as mãos do pai Sérgio que, depois de Deus, é o meu maior amigo e, com toda a ternura e gratidão que sou capaz de sentir, recebam o coração inteirinho do filho sempre mais reconhecido.
Djalma
Djalma Pompeu de Camargo Rangel
06.07.83
EVALDO ZAMBONI
São Paulo (SP) – 04 de setembro de 1958,
São Bernardo do Campo (SP) 21 de abril de 1984.
Filho de José Zamboni e de Glória Paschoa Amaro Zamboni, complementam sua constelação familiar à irmã, Valéria Zamboni de Carvalho, o cunhado, Rubens da Silva Carvalho, e os sobrinhos, Caio e Viviam Zamboni de Carvalho.
Sobre ser um jovem muito espiritualizado, bom filho e amigo dedicado, apreciavam muito a leitura de livros espíritas.
A mensagem fez muito bem para os meus genitores.
Para o meu pai, de modo especial, a citação de familiares que o Evaldo faz em sua carta mediúnica foi muito importante, já que o fato de Chico Xavier ignorar os nomes nela lembrados deixou nosso querido pai muito surpreso, pois ele não tinha maior familiaridade com o Espiritismo.
A saudade permanece, mas temos, agora, certeza de que Evaldo continua vivendo após o acidente que o levou de nosso convívio familiar.
Valéria Zamboni de Carvalho
(irmã do Evaldo)
Mensagem
Querido papai e querida mãezinha Gloria, peço-lhes que me abençoem.
Estou melhorando. Estas palavras são as que me definem as condições espirituais, porquanto, ainda me sinto revoltado quando me lembro que o acidente me colheu justamente no dia em que me habilitava para organizar o meu noivado. (1)
(1) Evaldo faleceu no dia marcado para o seu noivado.
Perdoem-me todos se aconteceu o inesperado. Quando o choque havido na máquina se abateu sobre mim, inutilmente procurei pelo cunhado, porque minha capacidade de movimentação estava morta. (2)
(2) O cunhado Edeu (Edeuses Davi) dirigia o veículo quando do acidente que vitimou Evaldo. Em outra mensagem recebida pelo Chico e que não consta deste livro, Evaldo chama o irmão de sua noiva pelo apelido de Edeu, nome que, quais os demais lembrados nesta mensagem, Chico Xavier ignorava completamente.
Um desmaio compulsório me tomou as energias e só despertei muito tempo depois, ao lado da vovó Fortunata e da vovó Judith que tentavam me consolar. (3)
(3) Respectivamente, Fortunata Bellino Amaro e Judith Zamboni, avó materna e bisavó paterna, já desencarnadas, em 1975 e 1924.
A noção imediata de que havia perdido o corpo físico estava acesa dentro de mim. Sentia-me num corpo igual ao meu, como se trouxesse um xérox de minha forma física, na intimidade de mim mesmo.
Lembrar-se-ão os pais queridos que a rebeldia não era qualidade que me interessasse, no entanto, saber que deixava a nossa Edisséia em plena frustração me acabrunhava. (4)
(4) A noiva, Edisséia Davi.
A luta comigo mesmo se fez quase selvagem, mas as palavras amigas da vovó Fortunata me auxiliaram e aquelas orações, repletas pouco a pouco, renovaram-me, de vez que me via à frente do irremediável.
As lágrimas da noiva querida e a dor dos pais que eu amo tanto me quebravam o animo de homem, mas sinto-me com a fé em Deus no coração e em Deus confio quanto ao futuro de nossa querida Edisséia que merece a felicidade que o céu lhe doará, já que minha provação era tudo deixar e recomeçar as minhas experiências, de novo, na Vida Espiritual. A ela, menina por todos os títulos digna da ventura que ambos sonhamos os meus votos de coragem e alegria.
Os dias se sucedem uns aos outros e, com os dias, as renovações necessárias se fazem naturalmente.
Peço aos queridos pais me desculpem se tantos planos novos esbarram no espaço estreito de uma árvore e de uma pequena casa, aniquilando-nos os projetos. (5)
(5) Evaldo sonhava muito em construir uma casa que lhes servisse de ninho após o casamento.
Espero melhorar-me futuramente mais do que nos dias de agora e entoa lhes serei útil como desejo.
Agradeço as orações de todos os nossos, notadamente as da Valéria, em meu beneficio, e conto com semelhantes benções em favor do meu revigoramento.
A vovó Fortunata e a tia Antônia (6), que me fazem companhia, consideram que devo terminar o que faço resignadamente, á falta de expressões que me traduzam com mais clareza os sentimentos desta hora e, peço a Deus, os recompensem pelo amparo que me trazem.
(6) Antônia Justina Amaro, tia materna, falecida em 1949.
Muito respeito e muito amor do filho que guardará o carinho sempre no coração,
EVALDO ZAMBONI
23.11.84
GIOVANNA MOTTA
SÃO PAULO (SP) – 30 de setembro de 1973
TABOÃO DA SERRA (SP) – 05 de janeiro de 1983
Roberta e Junior formam com os pais Lincoln Motta e Esmeralda Silva Motta a família que recebeu e amparou Giovanna em sua curta existência aqui na terra, preparando-a para assumir os importantes compromissos que a Espiritualidade Maior lhe reservou.
Esta mensagem vem comprovar que realmente ela está viva. Onde, ou em que plano, não sei...
Mas está sempre ao meu lado, respondendo meus pensamentos e amparando-me nos momentos difíceis.
Esmeralda Silva Motta
Mensagem
Querida Mãezinha Esmeralda, este é para mim um grande momento, instante de me revelar realizada ou a caminho de benditas realizações, solicitando-lhes para que o choro seja banido definitivamente da nossa casa.
Vejo-me, ainda, na festa da nossa querida Beta (1) e rememoro o instante em que cai sobre mim mesma, quebrando o copo que se me faria instrumento da libertação.
(1) Roberta – irmã em cuja festa de aniversario ocorreu o acidente referido na mensagem.
Estou aqui, em companhia do vovô Armindo Alves (2) que me adotou por filha menor, a quem ele esclarece, pouco a pouco, nos conhecimentos que externei ao escrever-lhe em maio passado por nosso caro Formiga. (3)
(2) Armindo Alves da Silva – avô materno desencarnado em 1976.
(3) Eurícledes Formiga – médium que psicografou a primeira mensagem de Giovanna, no dia 2 de maio de 1983, no Centro Espírita Perseverança, São Paulo.
Mãezinha perdoe-me pelos aborrecimentos que lhe dei, involuntariamente; graças a Deus, temos com você e com o papai Lincoln.
A vó Idalina (4), presente, beija-lhe a face com o carinho de sempre. Segundo pode observar querida mamãe, temos o Júnior (5) e a nossa Rô (6) que vem ser nossa permanente na família.
(4) Idalina Bettini da Silva – avó materna.
(5) Lincoln – irmão.
(6) Rô ou Beta – assim Giovanna chamava a irmã, Roberta.
Tudo isso me reconforta e me faz esquecer o instante em que me precipitei desastrosamente sobre mim própria, quebrando o vidro cujos pedaços me tiraram o prazer de estar perfeitamente feliz na festa de minha querida irmã.
Agora me cabe trabalhar do lado de cá me que me vejo chamada a tarefas novas.
Desculpem-me pelo fato de haver imposto, ainda, aos queridos pais, os problemas do processo que nada tinha a ver conosco, por quanto, em meu pensamento, fixara-se a convicção de que tudo ocorreu conforme as leis de Deus que não temos instrumento para sondar.
Se puder pedir-lhe algo além do extremo amor que me proporcionam, rogo-lhes auxiliarem as meninas que, qual me acontecia, querem estudar e ainda não encontraram o apoio com que os pais queridos me enriqueceram a existência.
Sou muito grata a todos os que nos auxiliaram, com o meu reconhecimento especial às preces da vovó Idalina, do vô Zé (7) e da querida tia Eliete (8), tanto quanto sou feliz com as bênçãos da vovó Justina.
(7) Vô Zé – apelido do avô paterno, João Motta Filho.
(8) Eliete da Silva Torisco – tia materna.
Querida mãezinha Esmeralda e querido papai Lincoln, estas paginas objetivam a alegria de sabê-los alegres com a esperança em Jesus a clarear-lhes os caminhos.
Muito reconhecida a todos, beija as mãos dos pais queridos a filha que está crescendo na vida espiritual, a fim de lhes ser útil e de amá-los cada vez mais,
GIOVANNA MOTTA
09/09/83
HEITOR JOSÉ MORINA
SÃO PAULO (SP) – 02 de abril de 1957
OSASCO (SP) – 26 de maio de 1977
Heitorzinho nasceu em São Paulo – SP a 2 de abril de 1957, deixando o convívio dos familiares aos vinte anos, vitima de acidente de moto, no dia 26 de maio de 1977 em Osasco – SP, quando voltava da escola para casa.
Simples, afetuoso, dedicado, no mês de sua desencarnação participava, com outros jovens, de campanha do agasalho no bairro em que residia em Osasco, movimento que os amigos concluíram em sua homenagem.
Filho de Heitor Morina e de Therezinha Ramiro Morina, completava o universo familiar com a irmã, Eliane Morina Nogueira.
Após o depoimento de D. Therezinha, apresentaremos as duas cartas que Heitorzinho enviou através do Chico.
Cheguei até Uberaba pela dor.
Jamais ouvira falar do Chico até que, sem qualquer conhecimento do Espiritismo, pois era católica, disseram-me que os jovens enviam mensagens por seu intermédio.
Li algumas dessas paginas mediúnicas, sobretudo as de Jair Presente e Augusto Cezar, e me animei a procurar Chico Xavier.
Na terceira visita, recebemos a primeira mensagem do Heitorzinho, que nos deu a esperança de que ele continua conosco e de que nos encontraremos um dia.
Tive forças para voltar mais vinte e sete vezes, ao longo de seis anos, sempre recebendo palavras confortadoras do Chico.
A 13 de maio de 1983, seis anos após sua partida, Heitorzinho nos enviou a segunda carta.
As duas mensagens de nosso filho deram-nos mais força para a difícil readaptação a vida nova.
Therezina Ramiro Morina
Mensagem
Querida mamãe Therezinha e meu querido papai Heitor, rogo-lhe para me abençoarem como sempre.
Querido papai Heitor, estou quase ajustado ao novo ambiente. Agora chegou a vez de pedir ao seu coração e ao carinho da mamãe para que me auxiliem, pacificando-se ambos como espero.
Papai, o abraço foi realmente meu. Abraço de filho e de amigo, de companheiro e viajante que segue sempre em sua direção. (1)
(1) Em torno de um mês antes da recepção desta mensagem, os genitores de Heitorzinho falavam sobre ele, em um pão familiar, quando o pai sentiu com muita nitidez o abraço do filho, abraço espiritual que heitorzinho confirma em suas palavras registradas pela mediunidade do Chico.
A saudade era tanta que fiz dela um laço forte para ligá-lo a mim. As dificuldades para mim foram grandes a principio, mas agora, tudo vai seguindo um ritmo de hábito, muito embora por dentro de mim, continue o vazio. Mas tenho agora a fé para me carregar, uma fé profunda na vida e no Criador.
Mãezinha Therezinha, não posso escrever muito, não posso escrever muito, porque prometi isso aos instrutores desta casa que não possuem tempo suficiente para dar ensejo de comunicação a quantos de nós que se apresentam com o anseio ardente de transmitir noticias.
O meu avô me auxilia e preciso terminar com muitas lembranças a todos os nossos e um abraço do coração para a nossa querida Eliane, a quem rogo muita paciência com a vida.
Querida mãezinha e meu querido papai Heitor, recebam todo o afeto do servidor reconhecido e filho do coração,
Heitorzinho
Heitor José Morina
05/10/79
Mensagem 2
Querida mamãe Therezinha, tenho ouvido as suas petições e me comove encontrá-la contando talvez demais com o apoio do seu Heitorzinho.
Sou ainda um servidor muito pequeno, mas se o coração tem força para realizar algo de bom, o meu coração é sempre seu e do papai Heitor, cujas inquietações nós ambos compreendemos.
A saudade é assim como uma planta invisível que nos vai enlaçando uns nos outros.
O querido pai sofre essa pressão intima, qual se vivesse num clima de hoje e de insegurança, mas espero em Deus que ele pratique aceitação conosco, porque a vida é de Deus e nos cabe a obrigação de acolhê-la como nos aparece.
Diga ao papai Heitor que não estou ausente e que os mensageiros do Bem no auxiliarão. As sombras passam qual ocorre com as nuvens presença simbólica do Criador.
Temos os irmãos queridos á espera de nossa assistência e de nosso amor e não será a saudade que nos fará desertores.
Estamos sempre juntos. Creiam nisso para que a realidade não seja uma luz distante de nosso convívio espiritual.
Querida mãezinha Therezinha, isso é tudo o que devia dizer ao seu coração inesquecível, porque, efetivamente, nós dois temos o papai Heitor por preocupação maior, de vez que nos cabe fazer quanto possível para vê-lo tranqüilo e robusto na fé, assim como nas próprias forças.
Um abraço a todos os nossos em família, especialmente á nossa Eliane e com o papai Heitor, receba todo o coração repleto de saudade e esperanças do filho agradecido que lhes pertence em nome de Deus.
Sempre o filho muito grato,
Heitorzinho
HEITOR JOSÉ MORINA
13.05.83
JOAQUIM AFONSO CARVALHO
CAMPOS ALTOS (MG) – 26 de junho de 1959
BELO HORIZONTE (MG) – 18 de dezembro de 1978
Aluno do curso de Edificações, em Belo Horizonte, Joaquim Afonso visitava sempre os familiares em Campos Altos – MG.
Numa dessas viagens ocorreu o acidente que lhe retiraria a vida física e o convívio mais próximo com os pais, Clóvis Carvalho e Jurandir Afonso Carvalho, e com os irmãos, Lídia, Adriana, Alessandra, Raquel e Junior. Na foto que apresentamos, Joaquim Afonso aparece ao lado da sua irmã Adriana.
Natural de Campos Altos, Joaquim Afonso desencarnou em acidente rodoviário no Natal de 1978, aos 19 anos de idade.
A seguir, apresentaremos algumas palavras de sua genitora e as duas mensagens enviadas pelo nosso jovem autor, através de Chico Xavier.
Com o inconformismo quase nos levando á loucura, pela perda do filho ainda tão jovem, os amigos buscavam consolar-nos por todos os meios possíveis.
Eu já ouvira falar de Chico Xavier, tinha mesmo vontade de conhecê-lo, mas em circunstancia mais alegre. Foi quando minha mãe e meus irmãos se dispuseram a levar-me até Uberaba.
Fui como quem nada quer, levada na esperança de um consolo maior, fazia um mês que meu filho partira recebi pequena noticia a respeito dele que me trouxe algum alivio.
Passados dez meses, voltei a Uberaba, mas foi na sétima vez que lá estive um ano e quatro meses de sua desencarnação, que recebi a tão sonhada mensagem.
Onze meses após ter recebido a primeira carta, recebi a segunda, tão linda quanto a primeira. Alias, nela, meu filho fala do mesmo modo que o fazia quando entre nós, pois, em suas cartas de Belo Horizonte, também perguntava por todos os irmãos, citando-lhes o nome, do mais velho ao caçula.
As paginas enviadas pelo querido Joaquim Afonso muito nos ajudou, ensinando-nos a superar a difícil separação, deixando-nos a certeza de que continua conosco.
Jurandir Afonso Carvalho
Mensagem
Querida Mãezinha Jurandir, peço a sua bênção, rogando igualmente a Deus nos proteja a todos.
Escrevo apressadamente, na certeza de que minhas palavras lhe trarão a tranqüilidade precisa.
Mamãe, não se julgue culpada pelo fato de havermos regressado a Campos Altos, porque estivesse eu onde estivesse, aquele dia, 18 de dezembro, era meu dia de retorno ao Mundo Espiritual. (1)
(1) D. Jurandir vivia martirizada pela saudade e pela idéia de culpa, quanto ao acidente que envolveu o filho, evidentemente sem outra razão que não o carinho e o zelo de genitora amorosa. Joaquim Afonso a tranqüiliza do Plano Espiritual.
Peço a sua calma e fique em paz a meu respeito. Preciso que suas lágrimas sejam de gratidão a Deus e não de mágoa.
Lamento que o Roberto e o Vandinho (2) estivessem na ocorrência, porque ambos são excelentes companheiros que recomendo ao seu cuidado e bondade.
(2) Roberto e Vandinho, companheiros que se encontravam no mesmo veiculo acidentado. Ambos residem em Campos Altos.
Peço dizer ao papai Clovis que estou bem. O meu avô Joaquim tem sido o meu segundo pai.
Mãezinha, recorde nossas queridas Lídia, Adriana, Alessandra, Raquel e o nosso Juninho, e procure estar tranqüila. Deus nos protegerá.
Beijos de seu filho
JOAQUIM AFONSO CARVALHO
19.04.80
Mensagem
Mamãe Jurandir, abençoe-me.
Sinto-a assim de tal modo sozinha que pedi aos mentores que nos dirigem o necessário consentimento para endereçar, ao seu coração querido, algumas palavras que consigam enfeixar os meus pensamentos numa carta mais longa.
Agradeço Mamãe, os seus cuidados e a sua saudade.
Os filhos e as mães estão interligados mesmo além da morte do corpo, através de fios invisíveis de amor que o tempo não desgasta.
Ouvi os seus pensamentos configurando indagações que me comoveram.
“Será, meu Deus, que outras mães situadas na vida com mais amplo reconforto, serão, mais anotadas na Vida Espiritual? Por que não consigo romper as barreiras que me impedem ouvir o filho do coração?”
Mãezinha querida, para Deus não existem mães diferentes. Todas são obreiras da vida, atendendo aos imperativos das leis que nos regem.
Não existem mães abastadas ou mães esquecidas; todas são ricas de amor pela herança de compreensão e ternura com que o Céu as criou para a alegria da Terra.
Desejo saiba que se não me comuniquei até agora, em resposta às suas expectativas, isso acontece em vista da organização de trabalho a que nos cabe atender.
Quero dizer-lhe que sabemos quanto lhe custa a viagem de nossa casa até aqui e acompanhado os seus sonhos de acalentar-nos um dialogo no qual posso repetir quanto a amo...
Observo o seu carinho, poupando cruzeiro a cruzeiro para sua jornada.
A saudade faz prodígio em suas lutas econômicas, a fim de realizar esta romaria de carinho e de fé na imortalidade.
Ouço o papai Clovis a comentar a sua coragem, indagando se você acredita realmente na sobrevivência de seu filho...
Compreendo a humildade de suas respostas e os seus pedidos de aprovação, formulados com a timidez respeitosa ao companheiro querido que me desse à existência, em nome de Deus, em sua companhia.
Não admita que o papai Clovis se omita por menosprezo à sua fé. O sofrimento nele é semelhante a uma nascente de pranto mais profundamente instalado nos recessos do seu espírito criativo e valoroso.
Deixemos ao papai a escolha do tempo que nos possibilite a conversa escrita, mas façamos isso com o apreço e o carinho que ele nos merece.
Entendo hoje com mais segurança a luta do homem de bem, chamado pelas circunstancias a manter e resguardar uma família numerosa. Nós, porém, oraremos juntos em lugar dele. E falaremos do amor com que lhe seguimos os passos e com que rogamos a Jesus protegê-lo sempre.
Mãezinha Jurandir, não permita que a saudade se faça nuvem nos seus pensamentos. È verdade que voltei cedo à Vida Diferente em que me vejo, mas isso não quer dizer que estarei inútil.
Meu olhar encontra o seu, quando você imagina me ver na verde extensão da paisagem que emoldura Campos Altos e escuto seu coração a indagar sobre o ponto do espaço em que estará seu filho liberado da experiência física...
Não pergunte por isso, porquanto, onde o amor se encontra, ai se reencontra constantemente os que se amam.
Tenho melhorado e venho procurando colaborar consigo para que a nossa Lídia e a nossa Adriana, a nossa Alessandra e a nossa Raquel, com o nosso caro Juninho, se desenvolvam felizes.
Peço-lhe, guarde intactas nossas esperanças. Não me recorde no acidente em que meu corpo tomou a feição da roupa estragada a golpes violentos da adversidade. Tudo passou.
Lembre-me em nossa alegria e em nossa confiança nos dias que são justamente os de agora. Somos felizes de maneira diversa daquela com que esboçávamos o futuro que é hoje o presente.
Não se creia menos protegida, porque lhe falta a presença de um filho dentre a meia dúzia de corações que o Senhor lhe confiou.
As irmãzinhas amanhã estarão jovens, estudando e trabalhando, e o nosso querido Júnior será um esteio de paz e amor em nossa casa.
Pense em vida que não desaparece, porque em verdade, mamãe Jurandir, só existe vida palpitante em toda parte.
Aos nossos caros amigos Roberto e Vandinho, companheiros de minha excursão ultima, as minhas saudações fraternais, com a certeza de que prosseguiremos em abençoada união espiritual.
Ao papai Clovis, o abraço que desejaria doar com os meus melhores sentimentos de respeitosa gratidão. Sei que ele tomará conhecimento de minhas palavras, refletindo-me a mudança, mas me identificará no intimo, observando que me encontro no anseio de acertar com meus deveres cumpridos, na trilha que ele sempre esperou que fosse a minha estrada no cotidiano.
Mãe querida, muito obrigado por seu amor e por sua ternura constante.
O vovô Joaquim e a vovó Maria Similiana (1) aqui se acham comigo e se fazem lembrados à família com os agradecimentos habituais.
(1) Joaquim José Afonso, avô materno desencarnado em 1959. Maria Similiana, Bisavó, há mais de 50 anos na Vida Maior.
E enviando muitas flores de carinho ao Junior e às irmãs queridas, deixo em seu coração ansioso de Mãe todo o coração repleto de saudades e esperanças do seu filho,
JOAQUIM AFONSO CARVALHO
21.03.81
LUÍZA CORRÊA JARDIM
SÃO PAULO (SP) – 13 de março de 1939
SÃO PAULO (SP) – 04 de março de 1962
Filha única de Maria Mion Corrêa Jardim e Jorge Corrêa Jardim (desencarnado), professora primaria, cursou Química Industrial na Faculdade Oswaldo Cruz, de São Paulo.
Poetisa, ufóloga, aluna exemplar, deixou lindos sonetos em sua curta existência na Terra.
Quando recebi a mensagem, não conseguia lê-la. Senti-me outra, parece que, por dentro, tudo mudou em mim.
Em casa, as coisas se modificaram. Sinto minha filha a acompanhar-me qual uma santa que não me abandona nunca.
Maria Mion Corrêa Jardim
Mensagem
Querida mamãe Maria, abraço-a com o meu pai pelo coração, nosso querido companheiro Afonso Avelino. (1)
(1) Afonso Avelino – casado em segundas núpcias com D. Maria Mion Corrêa Jardim, mãe de Luiza.
Mais de vinte anos se passaram e a sua dor materna escondida nos seus sorrisos de paciência me espera as noticias.
Mãe querida, ninguém decifra este mistério: as mães vencendo o tempo e a morte e ressuscitando os filhos considerados mortos para que lhe contem como vivem ou o que lhes aconteceu...
Minha avó Luiza (2) me diz que eu devo falar sem receio, pois aqui todos estudam o que há na morte, tanto quanto o que existe na vida.
(2) Luiza Corato Mion –avó materna, desencarnada em 1967.
Mamãe, você se recordará de que naquela noite de março, há vinte anos passados, o papai Jorge (3) estava mais áspero, mais difícil. Encerrou-nos as duas em casa, fechou as portas e me disse que eu não poderia continuar em nossa casa.
(3) Jorge Corrêa Jardim, pai de Luiza, desencarnou 4 anos após. È interessante observar as ponderações de Luiza sobre o processo obsessivo em que seu pai estava envolvido.
Pobre papai! Não era ele. Alguém o possuía, movimentando-lhes os impulsos contra nós. Clorei em silencio e vi que o meu pranto encontrava ligação nos seus olhos...
Tudo ouve do que nos foi por ele dito, talvez sem o mínimo de pensamentos dele próprio nas frases que pronunciava.
Confesso-lhe que eu estava arrasada. Tinha meus pais por única riqueza da vida, e se era meu pai Jorge quem me separava do lar, comecei a rezar pedindo a Jesus me desse uma direção para onde ir...
Deitei-me, mas o sono não vinha...
O medo do amanhã tomara conta de minha alma e, a custo, procurei uma drágea de tranqüilizante que me desse algum repouso, e, sorvendo-a, consegui dormir.
As emoções daquela noite e daquele dia eram fortes demais e, não sei por que, o sedativo, sem que eu tivesse a menor idéia disso, me paralisou o coração.
A principio, alguma disritmia, depois uma dor muito profunda...
O suor abundante molhou travesseiros e roupas de cama e, em seguida, senti-me sem capacidade de movimento. Pouco a pouco, tive a impressão de que desapareceria de mim própria...
Então, foi um torpor no qual sonhava, querendo acordar em meu corpo sem poder...
Escutei os seus gritos, tentando-me despertar...
- “Minha filha! Minha filha! Não me deixe sozinha”. Entretanto, eu não conseguia responder que ali me achava ao seu lado, intentando levantar o corpo que se fizera frio e enrijecido.
No auge de minha aflição vi alguém que me socorria.
Dormi profundamente.
Mais tarde, foi o encontro da vovó Luiza que me encorajava.
Mostrou-me que o papai Jorge era possuído por forças estranhas a ele próprio e pude ver, por mim mesma, que ele, embora transformado a meu respeito, continuava dominado por alguém que as vidas passadas lhe impunham.
Acompanhamo-lo doente, qual se fez com os dias que se seguiram à minha desencarnação, e segui de perto a separação dele e do outro ser que o dominava, quando o papai Jorge foi retirado do corpo.
Cenas que não posso descrever me elucidaram sobre muitos acontecimentos tristes do mundo e, em seguida, vovó e eu oramos para que um companheiro viesse protegê-la em sua solidão.
Foi quando as forças do Céu nos ouviram e o meu pai espiritual Afonso surgiu e se tornou o nosso companheiro dedicado e querido.
Hoje a nossa irmã Benedita, (4) que lhe foi mãe na Terra, está nesta noite em nossa companhia e as três, vovó Luíza, vovó Benedita e eu, rendemos graças a Deus por termos um amigo certo ao seu lado.
(4) Benedita Camargo – mãe do Sr. Afonso Avelino, desencarnada em 1979.
Mãe querida perdoe-me se falei tanto, mas os amigos espirituais, nesta reunião, decidiram que meu caso, ou o nosso caso, fosse relatado para que haja compreensão e harmonia nos grupos familiares que nos possam ler ou escutar.
Afonso, amigo paternal, Deus o recompense, e você, mamãe querida, receba na face cansada e sofrida, que sua filha vê sempre mais bela, um beijo de muito carinho e de muito amor, nas saudades e nas aspirações novas de sua filha.
Luiza
LUÍZA CORRÊA JARDIM
MAURO AUGUSTO CACIQUE ANDRADE
BELO HORIZONTE (MG) – 26 de janeiro de 1965
BELO HORIZONTE (MG) – 08 de março de 1980
Mauro nasceu e desencarnou em Belo Horizonte - MG.
Seu desenlace, aos 15 anos, por acidente de transito, ocorreu juntamente com a desencarnação de outro autor espiritual deste livro, Tibério Graco Dias, sendo Mauro alguns meses mais velho que Tibério. Encontravam-se no mesmo veículo que se chocou contra um poste.
Quarto filho do casal Wander Lage Andrade e Consuelo Cacique Andrade, Mauro cursava o primeiro ano do curso colegial. Companheiro inseparável do pai – D. Consuelo costumava dizer que um era à sombra do outro – Mauro deixou os seguintes irmãos: Márcia, Marcus, Maurício e Wander Júnior, filhos queridos que busquem suprir a ausência do irmão alegre, brincalhão, que enchia a casa com seu sorriso constante.
Sua genitora ofereceu-nos o belo depoimento que apresentamos a seguir à apreciação de nossos leitores.
Tanta lição de firmeza e fé, ante os Desígnios do Criador!
A saudade parecia que ia me arrebentar o peito. É dor demais para o coração de uma mãe, de uma hora para outra, ver-se privada da companhia de seu filho querido.
Foi então que eu e meu marido resolvemos ir falar com o Chico. Chegamos a Uberaba e, diante dele, mal conseguíamos articular as palavras. O Chico nos recebeu com aquele seu habitual carinho.
Fiquei surpreso quando ele me perguntou quem era Rosinha; respondi-lhe que era minha avó materna, já falecida. Então, Chico me falou que o Mauro estava presente com ela, naquele momento, mas que ainda era cedo para comunicar-se (fazia pouco mais de um mês que ele partira).
Em nossa quarta viagem a Uberaba, recebemos a primeira mensagem do Mauro, a 14 de junho de 1981, pouco mais de um ano de sua desencarnação.
A saudade era imensa daquele filho maravilhoso que Deus me emprestou durante 15 anos. Chorei de alegria ao reencontrar meu filho.
Continuamos a visitar o Chico e na décima viagem recebemos sua segunda mensagem e, até hoje, Mauro nos escreveu mais algumas cartas mediúnicas.
Hoje, graças a Deus, estou mais aliviada, aprofundei-me na Doutrina Espírita, achei resposta para todo sofrimento. Continuo indo a Uberaba e não pense o senhor que vou deixar de visitar o Chico, usufruir da convivência daquele ser humano maravilhoso, a quem nós, as mães-orfãs, devemos mais do que as nossas esperanças: devemos-lhe a vontade de continuar a viver.
Consuelo Cacique Andrade
Mensagem
Querida Mãezinha Consuelo, estamos realizando um sonho – o sonho de nos reunirmos com o papai Wander num trio de oração e de oração e de amor, de modo a lhe reafirmar quanto o amamos.
Sei que o papai acredita em meus comunicados, entretanto, é justo que ele conserve aquele sorriso de observação que lhe fica realmente tão bem ao caráter de homem leal a si mesmo.
Agradeço a ele a confiança que deposita em nós, agora que o seu trabalho na mediunidade é uma esperança nascente.
Compreendo as duvidas com que toma do lápis e lhe vê os movimentos, associados ao seu controle natural.
É isso mesmo. A pessoa, por vezes, se acredita induzida por si própria a escrever o que desejaria receber de um ente querido e, por esse motivo, o desenvolvimento da escrita mediúnica requisita mais tempo.
Seguiremos estabelecendo o nosso intercambio e o papai Wander nos acompanhará com a sua supervisão.
Para ele e para os meus irmãos poderá estranho que eu prossiga para cá do despojamento a que chamamos desencarnação, reunido os fragmentos de minha personalidade, a fim de surgir tão integro quanto me sinto agora.
Esperemos. Tudo melhorará. O papai, a Márcia, o Marcus, o Mauricio e o júnior nos entenderão. Não existe arvore produzindo frutos de um dia para outro.
Estou contente não só por ver o papai conosco, mas também a nossa querida Dona Evelyn e a nossa estimada irmã Dona Duca (1), da nossa casa de caridade no Bombim.
(1) D. Duca, sobrinha de Chico Xavier, fundadora da Casa de Caridade Herdeiros de Jesus, em Belo Horizonte - MG.
Estamos informados de que se projeta o levantamento de um refugio para crianças abandonadas e consideramos esse plano sensacional.
Se cada grupo de pessoas afins umas com as outras deliberasse fazer o mesmo, em breve tempo teríamos solucionado ai na Terra física o problema dos menores infelizes.
Formulo votos para que a obra despregue do projeto em forma de bendita realização e estaremos a postos para colaborar com tudo aquilo em que a nossa pequena contribuição consiga ser útil.
Querido papai Wander e querida Mãezinha Consuelo, agora é a minha vez de ceder lugar ao nosso estimado Tibério, que me diz ter um alô para a Mãezinha Dona Evelyn, e peço a ambos receberem um beijão do filho sempre agradecido.
Mauro Augusto
MAURO AUGUSTO CACIQUE ANDRADE
17.09.83
NELLY FERREIRA
SÃO PAULO (SP) – 07 de abril de 1965
SÃO PAULO (SP) – 02 de março de 1983
Filha do Prof. Dr. Celso Ferreira, titular da Cadeira de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina, e de D. Elza Lo Ré Ferreira, Nelly faleceu aos 18 anos incompletos, quando cursava o ultimo ano de Magistério, no Colégio Notre Dame, em São Paulo.
Alegre, muito voltada as crianças, conhecia piano, flauta e violão; completam-lhe o grupo familiar os irmãos Celso Ferreira Filho e Marcelo Ferreira.
“Pela magia da flauta e os acordes de seu violão, Nelly exibia personalidade voluntariosa, nada convencional, sempre certa do que fazer e dizer. Era, não obstante, uma menina moça, meiga, doce, sensível e, sobretudo, muito bondosa e carinhosa, sempre com as cordas da sua sensibilidade à frente da razão e do convencional.” Assim, era síntese formidável, sua mãezinha Elza nos descreve Nelly.
Sem Nelly, sentimos que o nosso lar ficara totalmente destruído e temíamos não poder levar a vida adiante apesar de nossos outros dois filhos.
Amigos nos levaram até a presença de Chico Xavier, de inicio no Rio de Janeiro e, posteriormente, em Uberaba.
Na segunda viagem a Uberaba, pudemos reencontrar nossa filha Nelly. Somente assim, embora com a irreparável perda e com a alma dilacerada, pudemos ter os elementos, a esperança e a força para reconstruir nosso lar...
Elza Lo Ré Ferreira
Mensagem
Querida mãezinha Elza e querido papai Celso.
Estamos num instante em que a minha alegria transborda do peito, de modo indefinível.
Admito que possam assimilar a essência do meu júbilo, porque trazer no coração a expectativa de um adeus interminável e, depois, reencontrar a felicidade do nosso abraço em família, sem meu ver, é tomar posse de uma felicidade que se imagina no mundo, sem o menor recurso para encontrar-lhe a beleza.
Sei que a grande barreira foi atravessada...
De começo, lutei contra a sugestão de me desligar do corpo cansado e enfermo. O doente é um cliente do consultório da esperança em todos os momentos da vida, depois de se acomodar com a enfermidade. E, nesse aspecto da minha situação, acreditei sempre que me livraria do peso incomodo daquele enfeite purgatorial que eu trazia.
Prefiro usar a presente conceituação porque chega o momento no qual descobrimos que a moléstia prolongada é um adorno para a alma, muito embora não queiramos exibi-la nessa condição, enquanto andarmos por ai, suportando o fardo de nossas inibições orgânicas.
Não pensava em desligamento da vida terrestre e queria a qualquer preço, continuar sendo a companheira ou a boneca mimada da mãezinha Elza.
Mãe recorda-a com a sua bondade, pisando devagarinho no quarto, supondo-me a dormir e temendo acordar-me de modo inconveniente. Ainda sinto as suas mãos de veludo a me tocarem de leve, para indagar depois se eu ainda sentia dores fortes.
Retorno à sua presença querida e revejo os seus olhos molhados de lagrimas, em me observando o abatimento gradativo. Lagrimas que você sabia disfarçar para que eu não me acreditasse em piora incessante...
De tudo me lembro e tudo agradeço...
Que preciosidades existirão suscetíveis de significar o reconhecimento dos filhos pela dedicação dos pais? Creio que não existem.
Por isso, rogo a Jesus lhes conceda um pedaço de céu em nossa casa com muitas felicidades junto a meus irmãos. A Divina Providencia recompensa-los-á pelo muito amor com que me fortaleceu a certeza de que eu viveria para a nossa união indestrutível...
Se a doença era uma coleção de sintomas difíceis de suportar, o carinho que me doavam era um anestésico permanente, com o qual sonhei por muito tempo com uma cura física impossível.
Quando dormi o longo sono de que não despertei tão depressa, alguém estava comigo, à maneira da mãezinha Elza, velando e acariciando-me, qual se eu houvesse voltado a ser uma criança...
Demorei-me a identificar a diferença, mas acabei por reconhecer a vovó Nelly (1), que tem sido para mim outra mãe pelo coração.
(1) Nelly Ramos Lo Ré faleceu em 1964
É nessa disposição de quem se reencontra a viver, que estou aqui para lhes agradecer e lhes beijar as mãos queridas.
Peço à querida mãezinha Elza alegrar-se e viver. Não podemos esquecer que o papai Celso e os nossos queridos Celso e Marcelo, os irmãos inesquecíveis, contam com a sua dedicação. Mãe querida, rogo-lhe fortaleza de animo e fé viva em Deus, que nos criou para a vida e não para a morte.
Estou muito sensibilizada em lhes apresentando minha alma reconhecida.
Por isso, peço aos pais queridos me perdoarem a indigência das palavras que não me retratam os sentimentos.
E recebam os dois, com os nossos valorosos meninos, muito amor, todo este amor que me corre do intimo ao encontro dos pais bem-amados, rogando à mãezinha Elza receber os beijos orvalhados do pranto de alegria e reconhecimento da sua filha, sempre a sua
Nelly
NELLY FERREIRA
12.11.83
RAUL PINHEIRO TORRES JÚNIOR
SÃO PAULO (SP) – 24 de janeiro de 1958
SÃO PAULO (SP) – 11 de janeiro de 1982
Filho único do casal Raul Pinheiro Torres e Hilda Meszaros Torres.
Humilde, dedicado ao próximo, Raul qual nos lembra sua mãe, deixou um grande exemplo em sua curta existência aqui na Terra.
Ao recebermos a sua bela e confortante mensagem, foi um alivio saber que ele estava bem e aceitava a sua nova vida.
Ela nos deu paz, muita fé e confirmação de tudo o que esperávamos.
Hilda Meszaros Torres
Mensagem
Querida Mãezinha Hilda e querido papai Raul, estamos na mesma faixa de pensamentos, iluminando a nossa ligação com o amor que vem de Deus.
Permitam-me não fazer qualquer referencia á morte.
Assunto sem duvida ultrapassado, a meu ver, porque a rigor a morte é semelhante á escuridão que não tem substancia alguma.
Basta que uma vela acesa apareça e a sombra se reduz simplesmente a nada.
Falemos, pois, da vida e, com licença dos amigos que nos recebem, desejo dizer-lhes que estamos aqui celebrando o nosso aniversario tríplice. Janeiro com três jóias para a nossa lembrança: o natalício do papai Raul, que nos infunde a maior alegria aos corações; as bodas do casamento feliz de que recebi a dádiva da existência e o meu pobre aniversario, daqui a dez dias pela frente.
É importante se diga que os supostos ausentes, nos caminhos sofisticados da desencarnação, não vivem indiferentes às festividades do coração.
Estamos separados por um fio vibratório, sobre o qual nada sei explicar.
Penso que, um dia, a própria ciência dos homens desfará esse fio, criando aberturas para mais amplo intercambio em beneficio dos que se vão mais cedo para o Grande lar e dos que permanecem chumbados aí, no chão da Terra.
Para ilustrar o que digo, está em nossa companhia o avô Bernardino, que possuo por benfeitor e amigo desde a minha volta à Espiritualidade; a vovó Elisabeth, a vovó Eva, a nossa amiga Abadia (1) que continuou depois do incêndio que a demitiu do corpo físico, a me demonstrar amizade e carinho.
(1) Bernardino Pinheiro Torres Sobrinho – bisavô paterno, desencarnado em 1932. Elizabeth Meszaros – bisavó materna, desencarnada na Europa. Eva Meszaros – bisavó materna, desencarnada na Europa. Abadia – amiga de infância, desencarnada no incêndio do Edifício Joelma, São Paulo, no ano de 1974.
Todos estão contentes, embora um tanto constrangidos pela impossibilidade de comunicar a nossa alegria aos amigos que nos acolhem com tanta gentileza, de vez que, para compartilhar dos eventos domésticos de uma família, quase que é necessário fazer parte dela.
Ainda assim nos reconfortamos com o que nos acontece, porque muitos dos corações magoados aqui presentes estarão informados quanto à nossa ligação constante, entre o chamado Além e o conhecido Chão Terrestre.
Pais queridos estão muito gratos por todas as demonstrações de carinho e conformação com que me acompanharam na separação ilusória que a liberação das forças físicas imprime em nossos pensamentos. Sei que todos choramos para valer. Foi um dilúvio de pranto, o ambiente em que aprendi a revê-los e abraçá-los e a desprender-me de recursos que não mais me pertenciam.
Agora, com a Benção de Deus, a tempestade vai serenando...
Estou bem com as saudades a tiracolo, mas o que se há de fazer? Não será por isso que articulei esse ou aquele voto para que venham ao meu encontro.
Á medida que me ergo aqui para a realidade, mais tempo lhes desejo e aspiro a doar em favor de todos os nossos para que usufruam uma existência tão comprida quanto lhes seja possível.
Na esperança, cabem todas as ansiedades conhecidas e desconhecidas. E na fé, clareando as estradas que se tenha de percorrer, não podem existir sofrimentos inextinguíveis.
Felizmente, estou melhorando nos conhecimentos que me habilitam a conviver com os outros aqui onde atualmente me encontro. Mas a renovação interior, qual acontece na terra mesmo, é mais difícil de alcançar, porque são tantas as reações que nos tumultuam as idéias que a vida espiritual mais me parece uma escola de testes incessantes, em cujas lições somos chamados a compreender, aceitar, servir, desculpar, auxiliar ao próximo e promover os meios de apoiar ao próximo aqueles que no mundo nos desapoiavam, que o jeito é acolher os ensinos e exigências do por aqui sem murmurações e sem queixas.
Se tenho qualquer inquietação, já sei como dissipá-la e desse modo o aprendizado para mim tem sido dos melhores.
Nada de queixas conta ninguém e nada de desânimo.
É melhor que o trabalho do bem nos carregue para diante, do que a preguiça mental aferrolhar-nos o espírito no cárcere de nós mesmos.
Que Deus seja louvado e que a vida nos ensine sempre mais e melhor, é tudo o que hoje desejo.
Pais queridos, o vovô Bernardino me aponta o relógio e afirma que ninguém adquire educação agindo sem horários. Por isso, aqui resumo as minhas alegrias, ofertando-lhes as flores de minha ternura e de minha gratidão.
Que a nossa união perdure invariável, no espaço e no tempo, construindo a nossa felicidade – especialmente para mim, a felicidade de pertencer-lhes – são, em síntese, as preces que dirige a Deus por nossa paz e alegria, encorajamento e aceitação do trabalho que o mundo nos reclama, o filho reconhecido e companheiro cada vez mais amigo,
Raul
RAUL PINHEIRO TORRES JÚNIOR
14.01.83
RENATO JOSÉ SORRENTINO
SÃO PAULO (SP) – 25 de setembro de 1962
SÃO PAULO (SP) – 05 de junho de 1984
Filho de José Sorrentino e de Wilma Sorrentino, Renato trazia consigo invejável bagagem: cursava o 4º ano da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Desprendido dos bens materiais, afável, filho amoroso e dedicado aos pais e irmãos, Luiz Carlos e Márcia Regina, cultivava o gosto pela música, dedicando-se ao estudo de violão clássico e piano.
Dizer de minha emoção, dos amigos e parentes, é quase impossível, pois tudo o que Renato disse na mensagem realmente ocorrera daquela forma.
Posso dizer que a carta de nosso querido filho mudou a cabeça de muita gente, que passou a crer na sobrevivência do Espírito.
O reconforto que sentimos ao saber que Renato estava bem deu-nos novo alento e muita vontade de trabalhar pelos companheiros necessitados.
Sentimos cada vez mais que somos todos irmãos e que devemos dar-nos as mãos para amenizar, com o pouco que podemos fazer o sofrimento alheio.
Wilma Sorrentino
Mensagem
Querida mãezinha Wilma e papai Sorrentino, abençoem-me.
Lembro-me da ultima frase que o jovem desconhecido me endereçou com a voz suplicante: - “Oi, companheiro, dê-me, por favor, uma carona. Sou seu colega sem nica no bolso...”.
O pedido me alcançou o coração e parei a moto. Estava de saída da USP (1) e devia a meu ver prestar um gesto de solidariedade ao amigo anônimo.
(1) - Universidade de São Paulo, onde Renato estudava.
Coloquei-lhe a garupa ao dispor e seguimos juntos. Não houve tempo para muito diálogo. Passados alguns minutos, o rapaz pediu parada e deixou o pedal que eu lhe havia cedido.
Mal nos defrontamos e ele sacou um revolver e os projeteis me atingiram com violência.
Compreendi que era o fim. Fixei o infeliz que me prostrara sem comiseração e roguei a Deus em silêncio que me fizesse entender aquele estranho assalto, em que os meus melhores sentimentos haviam cruelmente explorados...
O desventurado amigo ou inimigo (ainda não sei bem) procurou ganhar distancia, mas foi reconhecido.
A sangria desatada não me permitiu qualquer movimento.
Recordo-me de que alguns desconhecidos se abeiram de mim, no entanto, meu cérebro como que se apagara.
Nada mais vi nem ouvi, porque um torpor, que nunca imaginei pudesse ser assim tão forte, se me apoderou do corpo e da mente.
Quanto tempo permaneci naquele desmaio sofrido de profunda inconsciência, ainda não sei. Acordei num aposento confortável, assistido por uma senhora em cuja presença adivinha uma enfermeira prestimosa.
Não pude articular a palavra logo após retomar a própria consciência, abrindo os olhos. Notei que uma grande dificuldade me tomara a garganta e, entre pensamentos enfileirando orações, esperei o momento no qual me foi permitido falar.
Então, perguntei à protetora diligente sobre o meu próprio destino, já que a minha triste cena final me voltava à memória. Estaria em algum recanto de tratamento na Terra mesmo ou me achava em algum lugar fora do plano físico?
O corpo estava quebrado, dolorido...
A senhora me informou que a minha presença, fosse onde fosse lhe seria muito grata ao coração e me recomendou chamá-la por vovó Josefina (2).
(2) Josefina Papalardo Cascapera, bisavó materna, já desencarnada.
Vovó Josefina era um nome que, muitas vezes, ouvi como sendo alguém de nossa família que a morte arrebatara, e ainda estávamos naquele inicio de conversação, que me espantava quanto outra senhora veio até nós, abraçou-me afetuosamente e me solicitou nomeá-la por vovó Benedita (3).
(3) Benedita Monteiro César, bisavó materna, já desencarnada.
Então, não tive mais duvida. Chorei ali mesmo, refletindo em meus queridos pais, em meus irmãos e em nossa querida Silvia, a quem prometera casamento.
Vovó Josefina consolou-me e, qual se fizesse de mim um menino de volta à infância, me fez rememorar preces do tempo de criança que eu desde muito havia esquecido...
Entendi, no entanto, que não estava numa universidade e sim num santuário. O santuário do lar em cujo clima de amor formara o coração.
Minhas avós me recomendaram pedir à Divina Providencia bastante força para perdoar ao jovem que me despojara da vida física.
E quando fiz isso, com todo o meu coração, pois, repeti as petições por vários dias consecutivos até que conseguisse repeti-las com sinceridade, pensei no infeliz companheiro qual se fosse ele meu próprio irmão do lar e, desde essa hora, um calor diferente me animou por dentro da própria alma.
Quem seria ele, o amigo da carona solicitada?
Imaginei-o como sendo o meu próprio irmão que houvesse enlouquecido e, desde esse instante, as minhas energias intimas se renovaram.
Pude voltar à nossa casa e abraçar os pais queridos e os irmãos inolvidáveis, detendo-me a trocar pensamentos com a Márcia, que se mostrava mais acessível à minha influencia e depois fui ao encontro de Sílvia (4) que se mergulhava nos estudos. Bastou que eu lhe envolvesse com os meus pensamentos e vi-lhe os olhos brilhando com as lágrimas a cair...
(4) Sílvia Helena Ferreira de Souza, sua noiva.
Pedi-lhe coragem, falei do futuro em que ela conseguirá um companheiro digno do seu carinho e, em companhia da vovó Josefina, voltei á nova morada.
O meu reencontro mais difícil foi com o rapaz que me alvejara.
Fiquei ciente do seu nome, Marcelo, e compreendi que o tóxico lhe impregnava o habito em qualquer direção.
Reconhecendo-o nessa condição, mais se me acentuou a piedade por ele e abracei-o sem esforço a desejar-lhe paz e recuperação.
Aí está, mãezinha Wilma, o relato dos meus primeiros dias de vida nova.
Peço-lhe, tanto quanto ao meu pai e a meus irmãos, não se esquecerem de mim nas orações e, também, do Marcelo, para quem peço à querida família não conservar qualquer ressentimento.
Decerto, o ocorrido terá raízes em outros lugares e em outros tempos, o que me será permitido redescobrir quando estiver mais apto para essa espécie de curta analise, mas posso asseverar-lhe que me sinto mais tranqüilo, após haver considerado o meu improvisado agressor por irmão doente e começo a trabalhar, embora deficitariamente, sob a assistência dos nossos novos amigos, entre os quais me encontro.
Rogo à Silvia desculpar-me, se não pude cumprir as promessas que repetia sempre no sentido de fazê-la feliz. Menina correta e nobre, com o amparo de Deus ela encontrará um companheiro que a proteja e ame, com a mesma afeição que lhe dediquei.
E, conquanto possa fazer ainda tão pouco, no que se me faça possível, cooperarei a fim de que a nossa querida Silvia seja feliz.
O amor é sempre o amor e estaremos unidos ao modo de dois irmãos que se entre ajudarão nos caminhos da vida.
Peço aos pais queridos me faça lembrado a ela na condição de amigo fiel que não a esquecerá.
Neste ponto, a vovó Josefina me aconselha o ponto final, por haver trazido as minhas noticias, consideradas por ela as mais necessárias, e, com pesar me despeço, com meus votos a Deus pela paz e felicidade de todos os familiares queridos.
Ao papai querido e aos irmãos inesquecíveis, as minhas carinhosas lembranças, e para a querida mãezinha Wilma aqui ficará palpitando, mais junto do seu todo, o coração de seu filho, sempre mais seu,
Renato
RENATO JOSÉ SORRENTINO
09.11.84
RICARDO CARVALHO DE MELLO
GUAXUPÉ (MG) – 22 de abril de 1960
SÃO PAULO (SP) – 08 de novembro de 1981
Aluno de Ciências Econômicas da PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Funcionário do Banco Itaú S.A.
Com os quatro irmãos, Roberto, Regina, Renato e Reinaldo, formavam o “quinteto dos R” do casal Norailde de Mello e Izabel Carvalho de Mello.
Para mim, esta mensagem veio reiterar minha acendrada fé em Deus e trazer a esperança certeza de que todos novamente estaremos juntos mais tarde.
Izabel Carvalho de Mello
Mensagem
Querido papai Norailde e querida mãezinha Izabel, abençoem-me.
Escutei hoje as referencias tristes do papai com relação a minha ausência das mensagens obtidas na noite de ontem. Acontece, papai, que vou me reconstituindo muito pouco a pouco. (1)
(1) Ricardo faz referencia ao comentário que o pai fez com o irmão, pelo fato de não ter recebido a mensagem na reunião do dia anterior. Este comentário foi feito à tarde e, na noite do mesmo dia, Ricardo trouxe-nos esta bela carta mediúnica.
Felizmente a volta à vida espiritual, que seu filho igualmente não esperava fosse tão cedo, se desdobrou com os contratempos naturais dessas ocasiões.
A ausência de mim mesmo, no torpor que me abateu inteiramente e, depois, a retomada do pensamento próprio no qual a saudade era o tema central de tudo o que eu mais queria...
Ansiava retornar ao seu convívio, ao carinho da mamãe Izabel, do Roberto, da Regina, do Renato e do Reinaldo, qual se estivesse lesado por dentro, com seis feridas abertas.
Reconhecer-me em vida diferente, sem que eu suscitasse qualquer pedido, me assustava. Acreditava-me na condição de vitima de grave despojamento, até que a vovó Filomena (2) me apareceu, instruindo-me.
(2) Filomena Bertaglia Muniz, avó materna, desencarnada em 1962.
Desde então, vou acumulando energia para aceitar a transformação.
As saudades guardam o mesmo peço e a sua bondade e a bondade de mamãe Izabel confirmarão comigo em minha opinião; creiam, no entanto, que venho trabalhando quanto posso a fim de modificar-me, e espero ser-lhes útil tão-logo me veja mais integrado na existência por aqui.
Peço coragem aos pais queridos para que os irmãos igualmente não a percam.
Estou transformado, mas não ausente.
E quando puder estarei com a família a desfazer-me em serviço a cada um dos nossos, com o que reencontrarei mais alegria de viver.
Tudo passou sem que eu deseje acentuar as marcas que me ficaram e sei que um novo dia está raiando em meu favor.
Querido papai Norailde, perdoe-me se voltei de repente, sem meios de lhe falar do que ocorria.
O seu coração paternal se lembrará de que sempre lhe transmiti as minhas impressões reais do caminho e da vida. Mas a morte não fornece avisos prévios e regressei com essa ansiedade, crendo-me faltoso consigo e com a mãezinha Izabel que amo tanto...
Com o tempo reajustaremos todos os assuntos nossos, colocando em dia cada minudência. Agradeço tudo o que vem fazendo pelos órfãos. Este caminho da transformação da saudade em serviço aos nossos semelhantes será sempre o melhor.
O Senhor nos auxiliará.
Perdoem-me pelas lágrimas que lhes dei sem nenhuma intenção de ferir os pais queridos e os queridos irmãos.
A vovó Filomena vem em minha companhia e me auxilia a escrever estas linhas.
Espero que a família compreenda as minhas dificuldades para lidar com as letras. O meu tempo aqui é ainda muito estreito, mas estou feliz com o ensejo de lhes endereçar as minhas noticias.
Sou o “R” agora ausente, mas sem esquecer os outros quatro: Regina, Roberto, Renato e Reinaldo, os irmãos queridos aos quais abraço.
Com a benção da vovó Filomena para a nossa família, sou como sempre o filho desejoso de trabalhar para progredir e de estudar para saber.
Sempre o filho agradecido,
Ricardo
RICARDO CARVALHO DE MELLO
24.04.82
SIMONE COUCEIRO HORCEL
SÃO PAULO (SP) – 05 de setembro de 1983
SANTOS (SP) – 16 de maio de 1969
Alegre, extrovertida, amorosa e muito querida entre seus amigos e familiares.
Cursava a 7ª série do Colégio São José em Santos.
Filha caçula formava com os irmãos Marcelo, Marcílio e Marcus o lar de Carlos Alberto da Silva Horcel e Haylet Couceiro Horcel.
A mensagem de nossa filha nos chegou após diversas visitas mensais a Uberaba, no Grupo da Prece, pelas mãos abençoadas de Chico Xavier.
Ficamos emocionados e felizes pela beleza do conteúdo da mensagem e, também, por constatarmos a veracidade dos fatos relatados dos que eram somente de nosso conhecimento e de mais ninguém.
Um fato curioso citado pela Simone é o pedido de comprar flores ao pai e irmãos, pois, desde sua morte, a mãe só colocava flores em casa diante de sua fotografia e em sua memória e homenagem.
Outro fato é quando cita sua visita ao nosso apartamento, quando, enquanto viva, morávamos em casa, mudando-nos para o apartamento só dois messes após sua morte.
A mensagem recebida por intermédio de Chico Xavier foi um balsamo para nossas dores, guiando-nos na direção da pratica da caridade e de boas ações, dando-nos a esperança de um daí alcançarmos a ventura do reencontro com nossa querida filha Simone, o que é tudo o que desejamos.
Haylet E Carlos Alberto
Mensagem
Querida Mãezinha Haylet e querido papai.
Será esta noite uma hora de benção para a filha que se levanta do longo tratamento para traze-lhes todo o amor que me vai ao coração.
Pensei que a vida fosse um conjunto de sonhos que se transformam em realidade, mas estou agora numa realidade que me parece um sonho.
Estou melhorando. A vovó Maria Faya (1) me acompanha e me fortalece nestes instantes em que preciso retomar o cérebro tão seguro e tão lúcido quanto possível, para afirmar-lhes o meu amor...
(1) Maria Gonçalves Faya, avó materna, desencarnada em 1970.
Não posso reconstituir todas as fases do retorno a mim mesmas, após a anestesia profunda.
Lembro-me de que penetrei no Albert Einstein (2), encorajada pela fé, a procurar-lhes o ânimo firme nos rostos queridos que me habituara a ler nas mais diversas situações da vida...
(2) Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, onde Simone desencarnou, após cirurgia neurológica.
Lembro-me de que você, mamãe, e papai me abraçaram em casa, formulando votos por meu regresso à saúde perfeita.
A cabeça dolorida e quase sempre pesada exigia o tratamento a que me entreguei, confiante...
Dias de indagação foram aqueles...
Sentia o Marcus, o Marcelo e o Marcílio como que mais ligados a mim e, a expressão da Mãezinha Haylet, notava a preocupação em meu favor, enquanto o papai Carlos Alberto conversava comigo pelo brilho dos olhos.
Papai, os nossos olhos estavam molhados. Não sei se lembra do temor que o seu olhar me mostrava, temos sem alarme e sem medo, no entanto velado por aquela névoa que não chegava a se condensar na lagrima que nós dividíamos para que não nos caísse dos olhos, porque uma nuvem nos toldava o pensamento.
Aceitei os preparativos da enfermagem para a cirurgia até que a picada num de meus dedos me impôs uma sonolência da qual não conseguia sair...
O sono cobria todas as áreas de meu cérebro e ignoro quanto tempo se despendeu desde os sedativos até os impulsos do acordar...
Despertei, sentindo-me entontecida, quando ouvi a palavra “Faya”.
De quem seria a voz suave que me buscava os ouvidos?
Penso que os meus olhos abertos se esforçaram por readquirir a visão.
Pela primeira vez notei que o olho é um órgão do corpo e a visão é uma faculdade da alma...
Muito devagar, a capacidade de ver me voltou ao intimo e imaginei que trazia a cabeça raspada e ferida.
Tive vontade de gritar e chorar, entretanto, faltava-me forças.
Quando mais forte de me fazia essa ansiedade de me fazer notada, já que me supunha sozinha, a voz tornou a dizer:
- “Simone, você já passou pelos riscos da viagem e agora está conosco, em nossa nova moradia.
Sei que você ainda não consegue falar como deseja, mas essa inibição é passageira.
Querida, um dia, eu também senti a cabeça como que abalada por grande choque. Sofri, chorei, mas tudo passou...”
Nesse momento pude articular a pergunta que estava parada em minha garganta: “Quem me fala?”.
A senhora que se achava ao meu lado se fez visível para mim, abraçou-me, com imenso carinho, e informou:
- “Sou Maria Faya, também sua mãe... Não tema. Tenho você em meus braços, assim qual aconteceu com a nossa Let (3) em pequenina...”
(3) Referência carinhosa à mãezinha de Simone, D.Haylet.
“Minha avó?” – indaguei.
Ela me disse que sim e parecia engolir as lagrimas para me comunicar coragem e paciência.
O nosso diálogo se prolongou ainda por minutos e lembrei-me de que muitas vezes, em casa, a Vovó Maria era lembrada com respeitoso amor.
Vi em minha avó um retrato da mamãe Haylet e uma tranqüilidade diferente que alcançou por dentro...
Depois, foi a continuidade de meu tratamento com a proteção da avó Maria e do tio Antonio (4), que me carregava nos braços fortes, qual se eu fosse, de novo, uma pequena de colo.
(4) Antônio Couceiro, tio-avô, falecido em 1967.
As saudades de casa me doíam mais do que as dificuldades que ainda me assinalavam a cabeça.
Um correio, um telefone, alguém que me enviassem um recado aos pais queridos...
Tudo isso fazia de minhas petições insistentes, até que me conscientizei de que devia esperar, com paciência, a hora de revê-los e abraçá-los.
Tudo isso fazia parte de minhas petições insistentes, até que me conscientizei de que devia esperar, com paciência, a hora de revê-los e abraçá-los.
Amizades vieram em visitas de reconforto, e, com espanto, recebi a presença do Junão, o irmão do Saca (Alexandre), acompanhado de vários amigos (5).
(5) Junão, conhecido de Simone, cujo nome completo é Luiz Roberto Sachs Junior. Faleceu em 1983 e, desde sua partida, Simone lhe escrevia regularmente cartas em seu diário. Saca, Alexandre Sachs, irmão do Junão.
Chorei muito, porque toda evocação aos assuntos de casa me sensibilizava.
A minha avó Maria, porém, me prevenira de que não devia me exaltar em emoções que não me trariam qualquer bem, e os dias se passaram até que obtive permissão para ser conduzida ao nosso apartamento.
Abracei a Mãezinha Haylet, que me recordava em silencio, e abracei-me ao papai no pequeno recinto em que ele prefere escrever e escutei os pensamentos dele como se fossem palavras articuladas.
Papai, por que motivo você imaginava que a operação não teria sido necessária?
As suas perguntas vinham de seu pensamento para os meus e a vovó, que me assistia, explicou-me que o seu coração, paterno indagava se teria agido certo, conduzindo-me à cirurgia ou permitindo-a, sem muita certeza do que se realizava...
Hoje, pai querido, posso dizer-lhes que tido estava na posição justa. Não poderia desenvolver-me com o problema da tumoração que seguia adiantada...
E venho pedir-lhes para que a alegria de nossa casa volte a felicitar o nosso ambiente.
Mãezinha, muito grato aos seus cuidados pra com todas as minhas lembranças, mas não fique presa aos meus objetos de uso. Sempre que possível, distribua esse material que já não nos pode servir.
Minhas bonecas! Desejo vê-las com as meninas que fitam as vitrinas sem possibilidade de comprá-las. Guarde o meu pobre diário de menina habituada a registros e os nossos retratos, porque letras e imagens me parecem sinais da alma que ficam vivos em nossa memória e fora dela, mas qualquer peça que se faça útil para alguém, desprenda-se de tudo e distribua, com os outros, porque isso me fará grande bem.
Não deixe de comprar as flores para meu pai e meus irmãos e faça com que todos se lembrem de mim na condição de neta em passeio com a minha avó.
E creiam que estarei com todos em casa, sempre que possível.
Mas, a querida Vovó Maria me diz que não posso escrever mais. Recordar abre cicatrizes – diz ela, e as que eu trazia na cabeça já desapareceram...
De qualquer modo, estou confortada com a possibilidade de lhes dirigir estas noticias.
Queridos pais, estou bem e tudo continuará sempre melhor.
Para o Marcus, para o Marcelo e para o Marcílio as minhas muitas lembranças e para os queridos pais, amados meus que me encontram nestas palavras escritas com o meu coração, deixo aqui o imenso carinho repleto de saudades imensas da filha que lhes deve tudo o que recebeu de paz e alegria na terra e que os ama cada vez mais.
Sempre a filha agradecida,
Simone
SIMONE COUCEIRO HORCEL
07.07.84
TIBÉRIO GRACO DIAS
SÃO PAULO (SP) – 19 de setembro de 1965
BELO HORIZONTE (MG) – 08 de março de 1980
Tibério nasceu em São Paulo – SP a 19 de setembro de 1965. Iniciou seus estudos na capital paulista e aos 14 anos mudou-se com a família para Belo Horizonte, onde continuou os estudos no Colégio Pitágoras.
Alguns meses após a mudança para Belo Horizonte, faleceu em acidente de transito, juntamente com o Mauro, conforme relatamos anteriormente. Ao partir para o Plano Espiritual, no dia 8 de março de 1980, Tibério ainda não completara 15 anos.
Filho de Manoel Dias e Evelyn Hage Dias, complementam-lhe a família os irmãos Caio Graco e Claudia.
Meu marido já era espírita desde 1952, embora eu fosse católica.
Com a perda do Tibério, entrei em profunda depressão, vivendo à custa de calmante e mais calmantes. Meu marido começou a levar-me a uma reunião espírita em Belo Horizonte, onde tomei contato com o Espiritismo.
Animei-me a procurar Chico Xavier em Uberaba. Lá chegando, conseguimos um contato direto com o Chico, que nos disse alguma coisa a respeito do Tibério. Na terceira viagem a Uberaba, recebemos a primeira mensagem de nossa filho, à qual se sucederam mais quatro.
Recobrei o equilíbrio, através das mensagens recebidas por Francisco Candido Xavier e, mesmo morando distante, agora em Salvador-BA, não o deixo de visitar, pelo menos duas vezes ao ano.
As mensagens do Tibério nos trouxeram grande conforto, pois, para nós, mostraram que a vida continua após a morte.
Evelyn Hage Dias
Mensagem
Querida mamãe Evelyn ou querida mamãe Ever, estamos aqui um à frente do outro, sem que a nossa visão recíproca se faça completa.
Eu a vejo e sinto que os seus olhos queridos não me enxergam. Toco-lhe os ombros com os meus braços, no entanto, reconheço que lhe falta o instrumento de precisão para marca-me a presença.
Parece um sonho estar aqui ao seu lado e ao lado de nossa amiga e irmã Dona Consuelo, a fim de anunciar-lhe que o nosso Mauro e eu prosseguimos viagem, ao passo que os companheiros ficaram. (1)
(1) Mauro, co-autor espiritual deste livro e a sua mãezinha, D. Consuelo
Tudo foi rápido com as tintas de uma realidade que não me foi possível reter na imaginação. Senti que a minha cabeça esbarrara num corpo estranho semelhante a uma pedra que me apagou as idéias, quase que de uma só vez.
Preocupei-me por todos os amigos que alegravam a excursão de rua, mas longe estava de acreditar que seria o Mauro aquele com quem me reencontraria, vasculhando os pontos de trabalho que nos aguardavam aqui.
Cada um de nós tratou de aceitar a verdade, conquanto chorássemos à feição de crianças perdidas no rumo para casa, portanto, dizer o contrário, esnobando resistência, seria mentir.
Nossos avós nos auxiliaram – a mim, o vovô Francisco e a ele a bisavó Cacique (2).
(2) Francisco, avô paterno, falecido em 1952. Bisavó Cacique – é a bisavó Rosinha, citada pelo Mauro.
Quem diz avós, pensa em gente de asilo domestico, mas é um engano. Nossos avós são criaturas que a mudança espiritual remoça prodigiosamente, conquanto resguardando-lhes a maturidade intima, oferecendo-nos uma colaboração madura e prudente que nós outros, muitos dos chamados jovens, ainda estamos longe de possuir.
Mãezinha Evelyn, peço seja dito aos nossos, e especialmente ao papai Manoel, que sobrevivemos e estamos bem, com a certeza de que surgiremos melhores, com a edificação espiritual em casa.
A Claudinha e o Caio estão pedindo o nosso carinho e não quero furta-lhes o lugar que merecem junto dos nossos. Os queridos irmãos precisam crescer na certeza de que são profundamente amados por nós todos.
Mãe querida, é impossível expressar quanto desejo; se pudesse faria o “strip-tease” da morte para arrancar-lhe os véus de dor e medo com que a vestem no mundo.
O carro nos surpreendeu com a reviravolta havida e o choque que foi para mim de impacto, para que dormisse de maneira apressada. E dormi profundamente.
Quando despertei, tudo me pareceu natural, como se estivéssemos numa casa de saúde para a reabilitação de nosso visual. O Mauro, ao meu lado, supunha o mesmo.
A revelação de que o engano estava de nosso lado nos doeu bastante, a principio, mas pouco a pouco entendemos que era preciso aclamar-nos e tudo passou a condições diferentes.
Peço-lhe, tanto quanto rogo ao coração sensível de Dona Consuelo, não chorarem tanto e pedimos o Mauro e eu, ao papai Manoel e ao Sr. Wander para que não se aflijam (3). Espero voltara breve para acentuar as minhas expressões com a alegria sempre assim tão nossa.
(3) Tibério faz carinhosa referencia aos seus genitores e aos pais do Mauro. O leitor observará esses dois jovens sempre interligados nas mensagens, já que partiram do Plano Físico no mesmo acidente, em Belo Horizonte.
Estou aguardando o próprio reajuste emocional, a fim de continuar em meus estudos. A tia Farid e a vovó Hage (4) estão agindo, comandando as nossas impressões, para que a tristeza não se lembre de nós.
(4) Tia Farid, grande amiga da família Hage, era realmente tratada por tia. A Vovó, Tereza hage, Desencarnou em 1970.
Querida mãezinha, receba, pois, com a nossa estima Dona Consuelo, o nosso abraço e muito afeto aos que ficaram em casa.
E para você especialmente um beijão do seu filhote
Tibério
TIBERIO GRACO DIAS
28.11.81
FIM