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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Conveniência-Francisco Cândido Xavier

 

Índice do Blog 

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CONVIVÊNCIA

Chico Xavier

Emmanuel

APRESENTAÇÃO

E as indagações de numerosos amigos se multiplicam.

Por que o aumento do antagonismo e da intolerância no mundo, formando os mais dolorosos processos de violência?

De que modo justificar a desvinculação entre pais e filhos, quase sempre, em bases de frieza e indiferença?

Como entender a freqüência dos divórcios com esquecimento de crianças inteligentes e observadoras, que, em muitas ocasiões, passam a se considerar na condição de órfãos de pais vivos?

De que maneira sonhar as lutas entre chefes e subalternos, habitualmente empenhados à carga das reclamações abertas?

Como extinguir o racismo e o preconceito negativo, as aversões gratuitas e as antinomias entre idéias respeitáveis?

Sob que razões, interpretar a delinqüência entre irmãos?

E a guerra? Como definir a sinistra presença da guerra nas comunidades e nações?

Respondendo às perguntas de vários companheiros, oferecemos aos leitores amigos este livro despretensioso, afirmando que viver é de todos, mas a convivência é o fator que nos ensina a compreensão e a solidariedade de uns parsos outros,- a ciência da comunicação recíproca que estamos adquirindo na atualidade do mundo, porque só adquirindo os valores da convivência pacífica atingiremos a plena vitória do amor que o Cristo nos legou.

Emmanuel

Uberaba, 29 de janeiro de 1984

CAMINHA

A tarefa com Jesus é semelhante a grande caminhada.

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Em plena marcha, compreenderás que o serviço do bem não te permite o luxo do repouso desnecessário.

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Os apelos para que te interrompas surgem, habitualmente, de muitos modos.

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É o cântico das sereias da antiga imagem literária, induzindo-te a distrações, que te imobilizem no esquecimento.

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É a lamentosa alegação de cassandras do pessimismo, inventando fadigas que não sentes, tentando paralizar-te.

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São companheiros que se envolvem na trama de intrigas e melindres a te requisitarem para o desequilíbrio.

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São amigos que te deixam a sós, receando perder as vantagens que os vinculam a paixões possessivas.

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Ouve a consciência que te impele ao dever e não te perturbes.

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Seja qual for o convite que te façam para que te detenhas no campo cinzento da inércia, não te prendas a semelhante domínio da sombra.

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Serve e caminha.

CONSTRUÇÃO

Em assuntos alusivos à edificação do Reino de Deus em nós, não nos esqueçamos dos requisitos essenciais em qualquer construção terrestre.

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Qualquer obra simples, no Plano Físico, para que se levante, exige planejamento, serviço e ordem.

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Planejamento que inclui diretiva e orientação.

Serviço que se define por atividade e dever.

Ordem que expresse cooperação e ajustamento.

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Em suma, a disciplina é a síntese de todos os programas e obrigações para que o menor edifício se concretize na esfera humana.

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Obedece a pedra nas reentrâncias da base que se horizontaliza no solo.

Obedece o tijolo na faixa da alvenaria.

Obedece a viga de aço no campo da segurança.

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Na estrutura doméstica, obedece a semente no preparo da refeição, obedece o metal na utilidade caseira, obedece o fio na confecção da vestimenta.

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Não poderemos construir os mínimos tópicos de elevação no próprio espírito, sem que nos rendamos com alegria ao trabalho que nos compete.

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Somos material inteligente nas mãos sábias do Cristo. O Senhor, no entanto, não opera em nós, através de constrangimento, porque o Reino de Deus deve realmente surgir nos recessos de nossas próprias almas.

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É por isso que, em nos ensinando como se deve atuar, viver, crescer, trabalhar, servir e morrer, na edificação do Reino Eterno, esteve o próprio Divino Mestre entre nós, vivendo em regime de simplicidade nas bênçãos da Natureza, crescendo sem ilusões, trabalhando em apagada carpintaria, servindo sem exigência e morrendo injustamente na cruz, sem revolta e sem mágoa, para que aprendamos a buscar primeiramente os Desígnios de Deus, cujo plano de ação, é luz e felicidade para todas as criaturas.

OS QUE NÃO ESPERARAM

Não é difícil encontrar, entre os nossos irmãos do mundo, aqueles que, embora sofredores, não se catalogam entre os bem-aventurados, aos quais Jesus se referiu. São companheiros que se voltam contra os obstáculos suscetíveis de ofertar-lhes a precisa oportunidade de ascensão às mais altas experiências.

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Muitos deles se acolhem à rebeldia sistemática, contraindo débitos que os afetam, de imediato.

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No Plano Espiritual, vemo-los freqüentemente. São amigos padecentes que, em verdade, passaram pelo crivo do sofrimento, entrando, porém, nas perturbações decorrentes da deserção dos deveres que lhes cabiam cumprir. São irmãos que conheciam o valor dos entraves que poderiam transpor, a benefício de si mesmos, e acabaram situados nas sombras da delinqüência. São colaboradores das boas obras que as desfiguraram, estabelecendo dificuldades para si próprios pela intolerância para com os outros. São companheiros que articularam problemas e desafios para aqueles que lhe hipotecavam confiança e carinho e deles se afastaram deliberadamente, procurando escapar às responsabilidades que eles mesmos escolheram para observar e viver. São todos aqueles outros irmãos que preferiram o desespero diante das provações de que necessitavam para o próprio burilamento e se enveredaram, conscientemente, através dos resvaladouros da inconformação e da disciplina, para as alucidações da angústia e do suicídio.

*

Realmente, afirmou-nos Jesus:

“Bem-aventurados os que choram porque serão consolados...”

Entretanto que Ele mesmo, Jesus, nosso Divino Mestre e Senhor, se compadeça de todos os nossos companheiros que conheciam semelhante promessa e não quiseram esperar.

Sabemos todos que a Infinita Bondade de Deus que nos sustentou ontem, nos sustentará igualmente hoje e, dentro de semelhante convicção, manteremos a certeza de que com Deus venceremos.

OPINIÕES CONTRÁRIAS

Em muitos episódios da experiência humana, é provável que a provação te bata à porta.

Não te aflijas. Recebe-a com serenidade e bom-ânimo.

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Por mais grave a situação, não te precipites com decisões na base da insegurança.

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Estuda o desafio que as circunstâncias te lançam em rosto.

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Sobretudo, não emprestes qualquer traço sinistro às dificuldades que se te apresentem.

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É possível te vejas sob o peso das chamadas “opiniões gerais”.

Entretanto, nem todas as manifestações das “opiniões gerais” se harmonizam com a realidade.

Asserena-te e ora, preparando-te para os esclarecimentos necessários, que surgirão em momento oportuno.

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Não admitas a ansiedade por mentora de tuas resoluções.

Ainda mesmo que todos os itens da luta em que te encontras, sejam formulados pelos outros, contra o teu modo de agir e de ser, guarda a consciência tranqüila e não temas.

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É possível que todas as opiniões em derredor de ti se façam contrárias, entretanto, conserva a paciência e espera por Deus, porque a opinião dos Mensageiros de Deus pode ser diferente.

ASPIRAÇÕES E TRABALHO

Todos nós aspiramos conseguir determinada realização em determinados ideais, mas todos necessitamos complementar qualidades para as aquisições de demandados.

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Querias um casamento perfeito e a Divina Providência te concedeu um matrimônio em que te aperfeiçoes.

Considerando que não somos seres angélicos e sim criaturas humanas, recebeste uma esposa ou vice-versa para um encontro feliz, entendendo-se, porém, que esse encontro não exclui o aprendizado da abnegação, através da solidariedade recíproca.

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Desejavas filhos queridos que te concretizassem os sonhos e a vida te entregou filhos amados que te ofertam os mais altos testemunhos de ternura, entretanto, ei-los que exigem de ti sacrifício e renúncia a fim de que se façam educados e felizes.

*

Sonhavas com certos empreendimentos, em matéria de arte e cultura, indústria e administração e atraíste semelhantes encargos, no entanto, qualquer deles te angaria o êxito com vantagens compensadoras, se te entregares, sinceramente, à disciplina e à responsabilidade.

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Esperavas amigos, em cujos ombros te apoiasses para viver e esses amigos apareceram, porém, a fim de conservá-los, será preciso aceitá-los tais quais são, com o dever de compreendê-los e auxiliá-los tanto quanto aguardas de cada um deles entendimento e cooperação, nas áreas do apoio mútuo.

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Efetivamente queremos essa ou aquela premiação da vida, mas não nos esqueçamos de que a vida nos pede a retribuição de todos os valores que venhamos a conquistar com o trabalho na edificação do bem, de vez que também no campo da alma para receber é preciso dar, porquanto, em qualquer setor da existência, daquilo que se planta é que será justo colher.

BENEFICÊNCIA SEMPRE

Nem todos dispomos de telescópios para observar as estrelas, no entanto, é imperioso reconhecer que todos possuímos recursos para enxergar as crianças desvalidas no mundo, de modo a estender-lhes o amparo que se nos faça possível.

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Nem todos conseguimos subordinar as palavras aos princípios gramaticais, a fim de articular uma alocução irrepreensível, do ponto de vista idiomático, ao redor de assunto determinado, todavia, a possibilidade de pronunciar essa ou aquela frase de consolo e esperança, a benefício dos companheiros que estão suportando sofrimentos e provações maiores do que os nossos não exclui a ninguém.

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Nem todos penetramos os segredos da botânica em toda a extensão, contudo, todos guardamos o privilégio de plantar árvores amigas e flores diversas, por onde passemos e onde estivermos.

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Nem todos movimentamos a fortuna moedada para a sustentação da beneficência, entretanto, é justo anotar que todos podemos repartir o pão que nos é destinado com alguém que necessite.

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A vida não nos pede o impossível para que nos integremos nos mecanismos da caridade, extinguindo as provações que atormentam a Terra, mas, para que o mal desapareça, espera de cada um de nós essa ou aquela migalha do bem.

HUMANIZAÇÃO

Hostilidade, aversão, desafeto, ressentimento: semelhantes palavras assinalam estados evolutivos nos quais se fixam, transitoriamente, milhões de criaturas.

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Os antagonismos entre as pessoas, na essência, expressam atritos, nos quais se lhe embatem as forças de envoltório, das quais, por fim, se desvencilham com o tempo, de modo a adquirirem os recursos de elevação que lhes patrocinam a transferência para as Esferas Superiores.

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A imagem mais adequada ao esclarecimento do assunto, temo-la, mais particularmente, na atualidade, nos foguetes fabricados pelo homem, destinados à pesquisa do Espaço Cósmico.

À medida que alcançam as alturas, os engenhos dessa espécie se desfazem de cápsulas diversas, conquistando leveza e libertação para transitarem sem maiores empeços, à distância do centro de gravitação que os atrai.

Erguendo-se o Plano Físico por região, na qual ainda preponderam os impulsos animais de egoísmo e auto-defesa, quantos se liberam de semelhantes impedimentos se projetam nos altos domínios da compreensão, penetrando outros campos relacionados com a Cúpula do Universo.

Eis porque atingindo a própria humanização, a criatura deixa de conhecer adversários para encontrar unicamente irmãos em qualquer clima evolutivo.

*

Esforcemo-nos, assim, ao máximo, para entender acima de julgar e, pouco a pouco, o conceito de inimigos se nos afastará da mente, porquanto, ainda mesmo nos companheiros que se empenhem a ferir-nos, identificaremos candidatos ao remédio e à piedade e por eles trabalharemos a fim de que o bem nos favoreça, com a dedicação de quem se auxilia, auxiliando aos próprios irmãos.

DINHEIRO E EXPERIÊNCIA

Não consideres o dinheiro por “vil metal.”

Justo acatar-lhe as funções na existência humana.

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O dinheiro não é um motor, mas gera o progresso.

Não é alegria, no entanto, consegue distribuí-la, ainda mesmo se doada por aqueles que não a possuem.

Não é paz, contudo, constrói caminhos para a conciliação.

Não é segurança, mas protege a pessoa contra a necessidade.

Não é alimento, no entanto, assegura o pão de cada dia.

Não é agasalho, porém, adquire os fios que o entretecem.

Não é saúde, entretanto, adquire o remédio para aliviar a enfermidade ou saná-la de vez.

Não é um tapete mágico, mas auxilia ao homem a ganhar tempo, no aconchego do automóvel ou no bojo do avião.

Não é amizade, no entanto, sempre que mobilizado para o bem dos outros, é capaz de criar os melhores valores da simpatia e do reconhecimento.

*

Dinheiro é suor do trabalho e sangue do organismo social.

Aprendamos a respeitá-lo.

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A finança em si, não é vida, no entanto, em nome de Deus, é um dos mais valiosos apoios pra a vida, a fim que a criatura possa viver.

TRABALHO E CRÍTICA

Trabalho edificante em andamento no Plano Físico, onde se reúnem milhões de criaturas diferentes entre si, não se desenvolve sem críticas.

*

A pancadaria verbal cercará os obreiros.

E explodem objurgatórias, tais quais estas:

- Por que tanta lentidão nos detalhes?

- É impossível não estejam vendo as falhas com que se mostram...

- Aquele cooperador é um desastre...

- Não se compreende uma realização assim tão elevada em mãos tão incompetentes.

- Não consigo colaborar com gente tão despreparada...

- Tudo cairá sobre a turma irresponsável!

- Estão todos errados...

- Aguardemos o fracasso final...

*

Quando essas vozes se façam ouvir, não temas e prossegue trabalhando.

*

Imperfeições todos temos e teremos, até que possamos alcançar o Plano Divino.

*

Problemas evidenciam presença e colaboração.

Dificuldades trazem observações e observações justas geram insegurança.

*

Deixa que a censura te vigie e segue adiante.

Apesar de nossos erros e acima de todas as nossas deficiências, a construção do Bem não nos pertence; essencialmente, pertence a Jesus que zelará por ela, em nome de Deus.

E sabemos que o trabalho de Jesus não pode e nem deve parar.

*

A vida não nos pede o impossível para que nos integremos nos mecanismos da caridade, extinguindo as provações que atormentam a Terra, mas, para que o mal desapareça, espera de cada um de nós essa ou aquela migalha do bem.

NO TRÂNSITO DA FÉ

No caminho da fé, para que se lhe consolide o valor, é possível encontres obstáculos, através dos quais possas demonstrar as tuas aquisições de sinceridade e coragem, tais quais sejam: a incompreensão dos bons, a agressão dos desesperados, o sarcasmo dos irreverentes, a perturbação dos irmãos ainda ignorantes, a exigência dos críticos, a deserção de companheiros, a perseguição dos adversários, as horas de crise, as sombras da tristeza, os braseiros da aflição, os imperativos da renúncia, a necessidade do sacrifício pessoal e o golpe de amargas desilusões, mas, se tiveres humildade, na marcha em direção aos elevados objetivos que te propões a atingir, não te faltarão apoio e assistência constante, na senda a percorrer, porque a humildade se transforma em amor e o amor se te fará luz e bênção, na jornada para Deus.

LIBERDADE E PROVEITO

São muitos os companheiros que requisitam liberdade e mais liberdade. Entretanto, a maioria se esquece de que a independência de alguém vale pela disciplina que esse alguém apresenta na execução dos deveres que a vida lhe preceitue.

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A Natureza mostra isso em lições claras e simples.

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O Sol é um gigante de força no Espaço Cósmico, no entanto, se não aceitasse os impositivos da gravitação, não sustentaria a sua imensa colméia de mundos.

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A cachoeira assemelha-se a uma explosão de energias desatadas, mas sem a represa que lhe condiciona o poder das águas, o homem não usufruiria muitos dos valiosos benefícios da Civilização.

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Sem controle dos implementos que lhe são próprios, o avião não se levantaria.

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Sem leis que presidam o relacionamento entre as criaturas, a ordem seria uma ilusão.

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Reflitamos nisso e saibamos cumprir as obrigações que nos cabem.

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A criatura se destaca pelo que saiba, mas vale pelo bem que se decida a fazer.

AMIGOS

De quando a quando, aqui e além, por vezes, aparece determinado obreiro do bem que se acredita capaz de agir sozinho, no entanto, a breve tempo, reconhece a própria ilusão.

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O Criador articulou a vida de tal modo, que ninguém algo constrói sem a cooperação de alguém.

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Na Terra, há quem diga que amigo é alguém que nos procura unicamente nas horas de alegria e prosperidade, de vez que comumente se afasta quando o frio da adversidade aparece.

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Temos nisso, porém, outra inverdade, porquanto o amigo, ainda mesmo cercado de obstáculos, compreende os companheiros que se distanciam dele, transitoriamente, entendendo que circunstâncias imperiosas os compelem a isso.

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Na condição de espíritos ainda imperfeitos, é certo que, em muitas ocasiões, não nos achamos afinados uns com os outros, especialmente, no Plano Físico, nos momentos em que as nossas queixas recíprocas revelam-nos os pontos deficientes.

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E se soubermos reconhecer que todos temos provas a superar e imperfeições a extinguir, não experimentaremos dificuldades maiores para exercer a solidariedade e praticar a tolerância, melhorando o nosso padrão de serviço e comportamento.

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Se instalados na compreensão mais ampla, observamos que a amizade apenas sobrevive no clima da caridade que se define por prática do amor, de uns para com os outros.

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Na posição de amigos, entendemos espontaneamente os nossos companheiros, oferecendo-lhes o apoio fraterno que se nos faça possível, mesmo quando estejamos separados, porquanto estaremos convencidos de que possivelmente, surgirá o dia em que necessitaremos que eles nos amparem com o mesmo auxílio.

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Aprendamos a valorizar os nossos colaboradores para que não nos falte o concurso deles no momento certo.

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Amigos são alavancas de sustentação.

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Saibamos adquirir cooperadores e conservá-los, lembrando-nos de que o próprio Jesus escolheu doze irmãos de ideal para basear a campanha do Cristianismo no mundo. Foi ele mesmo, o Mestre e Senhor, que, certa feita, lhes falou de modo convincente: - “Em verdade, não sois meus servos, porque vos tenho a todos por amigos do coração”.

ANTE OS ADVERSÁRIOS

É possível encontres alguns adversários nas melhores realizações a que te entregas.

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Se isso acontece, habitualmente estás diante de uma pessoa desinformada ou doente que te recebe com evidentes demonstrações de desapreço.

E quando esse alguém, não consegue asserenar-te o campo íntimo a certas reações negativas, por vezes, alteia a voz e se faz mais inconveniente nas provocações.

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De qualquer modo, tolera o opositor com paciência e serenidade.

Ouve-lhe as frases ásperas em silêncio e reflete no desgosto ou na enfermidade em que provavelmente se encontre.

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Quando haverá sofrido a criatura, até que se obrigue a trazer o coração simbolicamente transformado num vaso de fel?

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Anota por ti mesmo que todos aqueles que ferem estarão talvez feridos.

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Age à frente dos inimigos de teus ideais ou de teus pontos de vista, com entendimento e tolerância.

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Advertiu-nos o Divino Mestre: - “Ora por aqueles que te perseguem ou caluniam.”

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O Cristo nunca nos exortou ao revide ou à discussão sem proveito.

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Induziu-nos a orar por todos os adversários ou acusadores gratuitos, dando-nos a entender que eles todos já carregam consigo sofrimento bastante, sem que necessitemos agravar-lhes as tribulações. E ainda mesmo que estejam semelhantes companheiros agindo de maneira insincera, saibamos confiá-los ao tempo, de vez que, para que se lhes reajuste os mais íntimos sentimentos, bastar-lhes-á-viver.

NOS TRILHOS MAIS ÍNTIMOS

Além da beneficência que os recursos amoedados conseguem realizar, uma beneficência existe, ao alcance de todos, que pode frondejar e frutescer nos trilhos mais íntimos do cotidiano, começando por dentro do próprio lar.

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É o verbo que se cala ante a maledicência ou a palavra otimista, que alimenta as boas intenções, convertendo-as em obras elogiáveis.

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É a gentileza que se dispensa ao vizinho, no culto do entendimento e da cordialidade que perdoa espontaneamente o gesto infeliz de algum companheiro.

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É o pensamento amigo que a bondade exterioriza, em favor do necessitado de paz, ou a prece que se formula em apoio aos irmãos caídos em provação e desvalimento.

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É o serviço aparentemente insignificante que se pode prestar aos que nos compartilham das experiências diárias, quais sejam a informação útil ou a condução de um fardo pequenino.

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É a generosidade com que nos será justo suportar a irreflexão desse ou daquele interlocutor e a desculpa sem queixa para com as ofensas recebidas.

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Dessa benemerência, às vezes, despercebida nas agitações do mundo, nascem valiosos fatores para a harmonia da existência.

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Aprendamos a tolerar-nos uns aos outros, sem atrito, sem mágoa e sem lamentações.

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Reconheçamos que a possível falta de alguém, tanto quanto a enfermidade de companheiro determinado poderiam ser nossas. E não olvidemos que o nosso beneficiário de hoje poderá ser o nosso benfeitor de amanhã.

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Situando o próprio coração em nossos gestos, marcando a nossa romagem com o selo da compreensão e do amor, estaremos efetivamente seguindo os exemplos do Amigo Celeste, que nos auxilia e socorre, de instante a instante, sem que venhamos a perceber.

DUPLA BENEFICÊNCIA

A caridade, na forma externa, é suficientemente conhecida. Toda organização assistencial é uma bênção de Deus, atenuando a penúria e o sofrimento onde surja.

Existe, porém, a beneficência mais íntima, que se comunica, de alma para alma, nas bases do silêncio e da compreensão.

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A caridade mais íntima socorre a pessoa em necessidade sem aparecer; fala-lhe aos recessos do espírito sem palavras articuladas; apoia-lhe a vida sem mostrar-se; e ilumina-lhe o coração, sem ofuscar-lhe o entendimento.

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Experimenta semelhante trabalho e observarás quanta alegria se te exteriorizará da existência.

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Se conheces a necessidade de alguém, não esperes que esse alguém se coloque de joelhos a suplicar-te favor e estender-lhe o auxílio de que possas dispor; na hipótese de te faltarem recursos para isso, encontrarás os meios de sugerir a companheiros outros para que o façam, sem que a tua influência se mostre.

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Quanto te convenças de que essa ou aquela criatura te requisita atenção para determinado assunto, ainda mesmo que disponhas de tempo escasso, podes dedicar-lhe alguns momentos, nos quais a tua palavra lhe signifique o apreço que te merece.

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Nos problemas de natureza familiar, descobrirás, sem dificuldade, a trilha mental, no instante justo, através da qual consigas transitar, restaurando a harmonia doméstica, sem esperar agradecimentos.

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Ante o amigo que se suponha em erro, saberás despertar-lhe as qualidades superiores que, porventura, estejam adormecidas, afastando-lhe os pensamentos de quaisquer sombras.

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Perante uma criatura querida que te haja desfechado essa ou aquela ofensa, reconhecerás que estará ela em momento difícil e que te cabe esquecer o contratempo havido, já que em lugar desse ou daquele ofensor, poderíamos estar nós com os desacertos e precipitações que ainda nos caracterizam.

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Não nos esqueçamos da beneficência externa que nos irmana uns aos outros, através da existência recíproca, nas experiências do cotidiano, mas atendamos à beneficência mais íntima, que ampara sem mostrar-se, erguendo sentimentos e levantando almas para a elevação de hoje, que perdurará nas alegrias do hoje e sempre.

ANOTEMOS

Os ensinamentos de Jesus estão nas linhas da Natureza.

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Quanto menos perseverança na enxada, mais ferrugem a dificultar-lhe o serviço.

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Quanto mais suor no arado, mais bênçãos na sementeira.

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Quanto menos repouso à fonte, mais limpidez na corrente.

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Quanto mais descanso ao poço. mais estagnação enfermiça nas águas.

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Quanto menos trato às plantas do pomar, mais ampla invasão da erva daninha.

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Quanto mais poda nas árvores benfeitoras, mais valiosa se lhe faz a produção.

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Assim também na vida.

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Quanto menos esforço, mais intensa excursão na ociosidade.

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Quanto mais diligência, mais crédito na ação.

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Quanto menos fé, mais névoa de incerteza.

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Quanto mais serviço apresentado, suprimento mais alto.

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Quanto menos bondade, mais pessimismo.

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Quanto mais amizade, alegria mais pura.

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Quanto mais desprendimento no amparo, simpatia maior.

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Quanto menos perdão, mais sombra de ressentimento.

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Quanto mais amor, mais luz no caminho.

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Quanto menos brandura, mais inquietação.

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Quanto mais humildade, mais compreensão.

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Por isso mesmo, nós, armados de vontade e discernimento, somos livres para estabelecer na vida o clima de sofrimento que nos segregue ou para construir o nosso caminho de felicidade, facilitando-nos a ascensão para a Grande Luz.

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Decerto, pensando na importância da Caridade nos mecanismos de nossas relações recíprocas, é que Jesus nos legou a observação inesquecível:

- “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

TRAÇOS DA PACIÊNCIA

No campo da alma, a paciência é um dispositivo de ação capaz de auxiliar-nos na realização de preciosas tarefas, tais quais sejam:

Suportar dificuldades, sem desistir do serviço a fazer; promover, sem alarde, o socorro preciso aos companheiros necessitados; tolerar os cooperadores de temperamento difícil, sem recorrer a advertências inoportunas; aguentar injúrias, sem transmiti-las à sensibilidade dos outros; fazer o bem, abstendo-nos de provocar elogios e recompensas; substituir qualquer irmão impedido de exercer as funções que lhe são próprias, na equipe de trabalho em que se integre, sem cobrar-lhe qualquer tributo de reconhecimento; liquidar os problemas da experiência comum, à custa do esforço próprio, evitando incomodar a quem quer que seja.

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Em suma, quando se fala de paciência, invoca-se a presença de alguém que se dispõe a trabalhar e a servir, sem a mínima idéia de que a paciência possa ser uma cadeira de balanço para refúgio da inércia.

CARIDADE E RELACIONAMENTO

Lições professadas nas faculdades de ensino conferem às criaturas variadas titulações de competência.

Entretanto, embora se observe, na Terra de hoje o imperativo de se formarem valores acadêmicos, no que se refere à comunicação, é justo reconhecer que a ciência do relacionamento, nos acertos precisos, é prerrogativa de Jesus.

Foi na cátedra da caridade que ele, o Mestre Divino, lecionou todas as matérias necessárias à concórdia entre os homens, como sejam: o perdão das ofensas, a oração pelos perseguidores, o amparo aos necessitados, o socorro aos doentes, o bom-ânimo aos tristes e o apoio aos fracos e aos pequeninos.

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Lembremo-nos disso e atendamos à compreensão para com os outros, a fim de que sejamos compreendidos.

Indaguemos de nós mesmos de quantos contratempos e desgostos nos livraríamos, se houvéssemos humanizado determinados gestos para com os nossos semelhantes e especialmente para com os mais íntimos participantes do nosso círculo doméstico nas horas de crise.

*

Os pais que censuramos, quando se desinteressam de nós; os filhos que se nos afastam da convivência, desconhecendo-nos o amor; os amigos que nos deixam embora as nossas súplicas para que não nos abandonem; os associados que não hesitaram, a nosso ver, em causar-nos prejuízos; os irmãos que nos sonegam apoio e que, segundo o nosso ponto de vista, estão em condições de nos atender... Em todas essas situações, a caridade está pronta a mostrar-nos que não nos cabe exigir-lhes, nem mesmo em se tratando dos entes mais queridos, o que não nos podem doar e que, em muitas ocasiões, não nos comportaríamos de maneira diferente, se estivéssemos no lugar deles.

*

Louvemos as conquistas da inteligência que patrocinam o progresso, nas frentes da cultura, mas ampliemos, quanto possível, a nossa idéia de caridade do amparo material ao campo espiritual propriamente considerado e reconheceremos que a beneficência, em nosso relacionamento recíproco, é a única luz suscetível de nos conduzir ao clima do amor e à vitória da paz.

COM DEUS VENCEREMOS

É possível que a provação te visite algumas vezes.

Quando isso ocorra, não te aconselhes com o desânimo.

Encoraja-te na fé e caminha para a frente com as tarefas que a vida te confiou.

*

Recorda que as dificuldades que te alcançaram o caminho terão atingido outros

companheiros.

É razoável reflitas que não és a única criatura atravessando as sombras que te parecem excessivamente pesadas nos ombros.

Outros choram e sofrem.

*

Não percas tempo com o frio do desalento ou com a febre do desespero.

Ao invés disso, conquanto as provações que te assinalem a marcha, estende mãos socorredoras aos que talvez estejam suportando problemas muito mais difíceis do que os teus.

*

Não te marginalizes.

Confiando na Divina Providência, segue adiante e não temas.

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Sabemos todos que a Infinita Bondade de Deus que nos sustentou ontem, nos sustentará igualmente hoje e, dentro de semelhante convicção, manteremos a certeza de que com Deus venceremos.

CARIDADE E CONVIVÊNCIA

A Caridade é a base da paz no relacionamento humano.

*

A Convivência feliz pede apoio e compreensão.

*

Por vezes, é possível que os outros necessitem de nós, mas não podemos esquecer que todos nós necessitamos igualmente dos outros.

*

Auxilia aos vizinhos para que os vizinhos te auxiliem.

*

O próximo é a ponte capaz de escorar-nos na travessia das dificuldades.

*

Não fujas à prestação de serviço que a outrem consigas oferecer.

*

Esquece possíveis ofensas alheias, reconhecendo os nossos próprios erros.

*

Fala criando otimismo e paz.

*

Não te queixes de ninguém.

*

Trabalha e serve sempre.

*

Decerto, pensando na importância da Caridade nos mecanismos de nossas relações recíprocas, é que Jesus nos legou a observação inesquecível:

- “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

Fim