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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Loja de Alegria-Francisco Cândido Xavier

 

Índice do Blog 

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Loja de Alegria

("Loja de Alegria", de Francisco Cândido Xavier, por Jair Presente)

Prefácio

Loja da Alegria

Emmanuel

Meditávamos em ameno recanto do Piano Espiritual, quando o jovem comentarista desencarnado se aproximou, apresentando-nos uma pasta recheada de papeis.

—0 amigo poderia ler algo do que escrevi? — perguntou respeitoso.

Entendendo que já nos conhecíamos pessoalmente, informei:

— Já li toda a tua produção e te estimo a sinceridade.

o dia1ogo prosseguiu:

— Já leu? Como?

— Nas transmissões mediúnicas, pelo dever de acompanhar os amigos que se comunicam.

o jovem considerou, intrigado:

Muitos amigos desejam se faça um livro de minhas paginas.

-Um livro?

— Sim.

— Com que objetivo?

— Demonstrar que a morte não existe, reconfortar os que choram...

— Qual é o titulo?

— Sinceramente, não sei.

No sentido de ativar o nosso entendimento, indaguei:

— Quando no Piano Físico, que mais desejarias haver possuído, sem que realizasses o teu intento?

O rapaz mostrou um brilho mais intenso nos olhos e explicou sorrindo:

— Queria ter tido uma loja de alegria para distribuir felicidade com todas as pessoas.

— Pois, observa. A nosso ver, o teu livro é uma loja de alegria, pelo humor com que sabes expor os ensinamentos mais elevados, capazes de serem veiculados na Terra, em nome do Piano Espiritual. Criaste um modo pr6prio de comunicar as tuas opiniões aos companheiros do mundo em que a poesia se confunde com a prosa e vice-versa.

Acreditamo-nos dispensados de dizer que o jovem é Jair Presente e que o volume nascido da inspiração dele ficou titulado sob a denominação de “Loja de Alegria”.

Este é o livro amigo e simples que te entregamos, caro leitor, revelando o coração idealista e nobre de um moço que se aplicou alegremente à verdade na Vida Maior.

Quanto ao mais, permitimo-nos colocar o ponto final nestas anotações despretensiosas, a guisa de prefácio, rogando a Jesus nos abençoe a todos, e conservando a certeza de que não precisamos elogiar as páginas deste volume, porquanto, o próprio leitor as julgará por si mesmo.

Emmanuel

Uberaba, 7 de janeiro de 1985

Palavras dos familiares de Jair Presente, a respeito de suas mensagens recebidas por

Francisco Cândido Xavier e, de modo especial, das que constituem este livro

Quando Jair partiu para a Pátria Espiritual, a dor e a saudade tomaram conta de nossos corações.

Após pouco mais de um mês, o sol começou a brilhar novamente para nós, quando tivemos o primeiro contato com Chico Xavier, que nos deu tanto alento e esperança.

A primeira mensagem psicografada pelo Chico nos trouxe forças e incentivo para continuar-mos a enfrentar os embates da vida. Depois de algumas cartas mediúnicas do Jair começamos com fé e vontade a estudar a Doutrina Espírita, encontrando paz na alma e despertando para o trabalho em favor de nosso pr6xirno.

A cada dia que se passa aumenta a nossa alegria, sabendo que suas mensagens continuam, sendo para nós bênçãos de conforto e esclarecimento doutrinário, através das mãos abnegadas e amigas do querido Chico.

A nossa felicidade é imensa ao sabermos que o Jair continua trabalhando em outro piano de Vida no qual algum dia esperamos, também, estar presentes, para permanecermos juntos novamente.

Jair foi e é um espírito forte,robustecido na fé.

(Os pais, Jose e Josefina e a irmã, Sueli).

a b

1 - A  Pior

Jair Presente

Nos cuidados deste mundo

As doenças muitas são:

Catapora, perna bamba,

Reumatismo, amarelão;

Dor de cabeça, azedume,

Enjôo, melancolia,

Preguiça, tangolomango,

Sarampo, disenteria;

Dor de dente, tremedeira,

Budum, onzena, chulé,

Gagueira, bafo de onça,

Mão boba, bicho de pé;

Catarata, corpo ruim,

Pé chato, cabeça fraca,

Nervo torto, pele seca,

Feitiçaria, mandraca;

Aflição, mal de São Guido,

Lobinho, cara cinzenta,

Defluxo, carne rendida,

Catarro, baba de venta;

Mas de todas as doenças

Na provação que escorraça,

A pior que conhecemos

É a zonzeira da cachaça.

a b

2 - A  Receita

Jair Presente

Se você sente amargura,

Inquietação e pesar,

Quanto lhe seja possível,

Não deixe de trabalhar.

Preocupações em negócios?...

Conflitos dentro do lar?...

Não faça reclamações,

Dedique-se a trabalhar.

Tropeços na profissão

Com vencimento a minguar?

Não se amedronte, nem tema,

Continue a trabalhar.

Injúrias, reprovações

E a tentação de brigar?

Acalme-se na oração,

Renove-se a trabalhar.

Enfermidades e lutas

Na vida particular?

Para afastar qualquer sombra,

A receita é trabalhar.

Muita gente após a morte,

É que vive a lamentar

Todo o tempo que perdeu

Por não querer trabalhar.

a b

3 - A  Surpresa

Jair Presente

Aberta a reunião,

O amigo Joaquim Lucena

Exortou aos companheiros,

No garbo de quem ordena:

-“Meus irmãos, muito cuidado!

Evitem ficar na cola

Da lembrança lamentável

Do Coronel João Marçola.

Há um século, mais ou menos,

Esse horrendo Coronel

Foi dono destes sítios,

Homem mau, bruto e cruel.

Depravado ele trazia

Veneno dentro das veias,

Fez muitas mortes e furtos,

Tomando terras alheias.

Esse infame era decerto

Um lobo, em forma de gente,

Aniquilou muitos lares

Qual terrível delinqüente.

Não podemos recebê-lo,

Em nossa reunião,

O Coronel João Marçola

Foi criminoso e ladrão.”

Alguns momentos passados,

O guia Adão Serafim

Tomou o médium Silvano

E dirigiu-se a Joaquim:

-“Meu amigo, não condene,

Use bondade e razão;

Aquele que foi Marçola

Precisa de compaixão.

O Coronel referido

Encontra-se renovado;

Ele agora é um companheiro,

Novamente reencarnado...”

-“Que ouço? – clamou Joaquim-

Renasceu de que raiz?

Como voltou? Como está?

Quem será esse infeliz?...

O guia falou: - “Joaquim,

Recorde que o Céu nos vê...

O Coronel reencarnado

É justamente você.”

a b

4 - Atração

Jair Presente

Você deseja o sentido

Daquela lição segura:

-“Cada pessoa na vida

Acha aquilo que procura.”

O ensino vem do Evangelho

Com tamanha singeleza

Que para ser explicado

Basta ver na Natureza.

No belo mundo das aves,

A andorinha persevera,

Buscando incessantemente

O lugar na Primavera.

A mosca se movimenta

Com diligência incontida,

Tentando refugiar-se,

Nessa ou naquela ferida.

A abelha deixa a colméia

E, sempre ativa e fiel,

Acha a flor que lhe garante

As substâncias do mel.

O abutre, sisudo e firme

Voa, alto, mas, no fundo,

Quase sempre, só se farta

Nos excrementos do mundo.

Assim somos nós também...

Segundo a questão exposta,

Somente achamos nos outros

Aquilo que a gente gosta.

a b

5 - Atualidade  Terrestre

Jair Presente

Escutem, caros amigos,

Minha irmã e meu irmão,

Na Terra, estamos agora,

No mar da tribulação.

O mundo – lar flutuante –

Que nos resguarda e comporta,

Esculturado em grandeza,

É a nave que nos transporta.

A embarcação não tem brechas

Nas bases em que se assenta,

Mas navega sob as nuvens

De tempestade violenta.

A direção vai correta

Mas, por muito se capriche,

A aflição nos passageiros

Alcança todo o beliche.

O navio ringe e estala

Suportando a gritaria,

Tubarões rondam mais perto,

Esbraveja a ventania.

Nos viajores, há rixas,

Brandam ânimos azedos

Todos sabem que há perigo

Em disfarçados rochedos.

Por cima, trovões ribombam

No furor do cataclismo,

Por baixo da maré grossa,

Agita-se o grande abismo.

Entretanto, muito embora,

Pareça a nave ranger,

Qual ninho que se estraçalha

Ninguém precisa temer.

Ninguém receie naufrágio,

Nem se inquiete, quanto a isto,

O barco segue na luz

Do farol de Jesus Cristo.

a b

6 - Cartaz  de  Aviso

Jair Presente

Se zebra significa

Estado de negação

Conheço muitos rebanhos

De zebras em profusão.

Conheço as zebras do jogo

Que chegam com o lobo mau,

Do grude e da marginália

Que vem com cara de pau.

Já vi a da bananosa,

Entendo a do bolso liso,

Noto a da cuca grilada,

Da bronca e do prejuízo.

As duas mais perigosas

São a pinga e o fumacê,

De garrafa, copo e prisa,

Que surgem não sei por quê.

E a turma de Jesus Cristo

Mostra este aviso na estrada:

- A força da paciência

É o que espanta a zebralhada.

a b

7 - Caso  Sério

Jair Presente

Amigo, você comenta

E comenta com razão:

-“Tenho um amigo excelente

Que não quer religião.

Ele diz que crê em Deus,

É um cérebro aberto em luz,

Crê na vida além da morte,

Mas não aceita Jesus.

Não deseja ensinamentos,

Apenas discute e lê,

Nem orações ele aprova...

É um caso sério... Por quê?”

Respondo sem pretensão,

Sem grilos, como se diz,

O companheiro, a meu ver,

É um homem forte e feliz.

Certamente, está seguro,

No campo da profissão,

Jamais terá conhecido

Doença e tribulação.

Com certeza, nunca soube

De espinhos nos próprios passos,

Até agora não teve

Um filho morto nos braços.

Reside num lar tranqüilo,

Sem ter maiores problemas,

Por certos, traz a cabeça

Cheia de sonhos e esquemas.

Mas deixe o tempo correr,

O tempo é que nos conduz,

Em tempo certo, esse amigo

Precisará de Jesus.

Recorde o antigo provérbio

Que não se sabe de quem:

- Vara que bate em Maria,

Bate em Joaquina também.

a b

8 - Caso  Vulgar

Jair Presente

João comia. João dormia.

Tinha pouco o que fazer.

Passeava, andava e ria,

Mas João queria morrer.

Dizia que o mundo é falso,

Despenhadeiro traidor,

Senzala de crueldade,

Toda cravada de dor.

Por mais que o guia buscasse

Despertá-lo para o bem,

Tudo inútil. João clamava

Xingando como ninguém.

O mentor rogava calma

No serviço meritório,

João respondia que o mundo

É um horrendo purgatório...

Afirmava ouvir apenas

Pragas, lamentos e ais.

E rematava: - “meu guia,

Agora não posso mais...

Quero a sua companhia,

Preciso mudar de sorte,

Colaborar, ao seu lado,

Na vida depois da morte...”

E tanto pediu repouso

Na chorança sem limite

Que o pobre desencarnou,

A toque de meningite.

Sob os cuidados do guia,

João acordou, foi tratado...

O mentor, ao vê-lo forte,

Anunciou-lhe, afobado:

-“João amigo, eis o momento!...

Você queria morrer,

Agora venha comigo,

Servir é o nosso dever.”

O moço que detestava

Disciplina, horário e prova,

Começou desapontado

A imprevista vida nova.

Seguindo os passos do guia,

Entre surpresas crescentes,

Passava, dias e dias,

Doando forças aos doentes;

Amparava hansenianos,

Balsamizava feridas,

Corria sempre em socorro

De crianças desvalidas.

Gastava nos hospitais,

Às vezes, noites inteiras,

Garantindo a vigilância

De enfermeiros e enfermeiras.

O protetor sem repouso

Parecia não ter paz,

Onde surgisse em auxílio,

João devia vir atrás.

Certo dia, João, cansado,

Disse aos guia: - “não agüento,

Não mais agüento a pedreira

De prisão e sofrimento...”

Pede o guia: - “Fala, filho!...”

E chorando gritou João:

-“Eu quero viver na Terra,

Prefiro a reencarnação...”

a b

9 - Conversa  de  Gente Moça

Jair Presente

Paz e amor na reunião,

Coração calmo e contente...

Isto me faz escrever

À mocidade presente.

Irmãos, a vocês aí,

Que formam na juventude,

Desejo possam fazer

Tudo aquilo que não pude.

Não acreditem na morte

Em que o pijama se estraga,

A vida – benção de Deus –

É a luz que nunca se apaga.

Conservem saúde e força

Na paz do trabalho são...

Todo destino começa

Por dentro do coração.

Futuro? Pensem agora

Na idéia melhor que há...

Aquilo que a gente planta

É aquilo que surgirá.

Assunto de casamento,

Anotem como se cria,

O lar não pode nascer

Em jogo de loteria.

Tóxico é tempo perdido,

Guardem juízo apurado;

Dinheiro gasto em bolinha

É furto ao necessitado.

O esquente não auxilia

Mesmo nas horas de festa;

Há muita pinga enfeitada

Mas para vida não presta.

Quanto ao mais, busquem Jesus

E esqueçam exemplos maus!...

Mocidade para o bem

É a senda que leva a Deus.

a b

10 - Anotação  de  Paz

Jair Presente

Atende ao próprio dever,

Não te digas incapaz

E, cumprida a obrigação,

Não peças fama ou cartaz.

Não exijas condições,

Procura o bem, onde estás

Não vales pelo que tens,

Mas por tudo quanto dás

Não penses mal de ninguém,

Cala a crítica mordaz,

Amparo, socorro e bênção,

Podes ser por onde vás.

Olha o serviço a fazer,

Não aquilo que te apraz,

O melhor que se constrói

Vem do esforço pertinaz.

Age, edifica e prossegue;

Não te voltes para trás.

Trabalha e confia em Deus,

Se queres viver em paz.

a b

11 - Estudo  da  Obsessão

Jair Presente

Ouço dizer que as pessoas

Desencarnadas no mal,

Muitas vezes, continuam

Em treva espiritual.

Perturbam aqui e ali,

Demonstrando esforço inglório,

Para levar muita gente

Às furnas do purgatório.

No entanto, antigo instrutor

Disse-me, há tempos: -“Jair,

Não é ao campo infernal

Que tentam impelir.

Obsessores já sabem

Que Deus é o Eterno Bem,

Que nunca nos desampara

E nunca fere a ninguém.

Inclinam muitos irmãos,

De espírito desatento,

Ao erro e, depois do erro,

À dor do arrependimento.

O objetivo não é

Atirar alguém no abismo

Mas induzir as criaturas

À sombra do pessimismo;

Pois pessoa com remorso,

Triste, azeda e amargurada,

Foge do bem como pode

E acaba em descrença e nada.”

a b

12 - História  de  João

Jair Presente

Depois de desencarnado,

João Maria do Amaral

Procurou uma das portas

Da Vida Espiritual.  

Logo veio um mensageiro

Que o saudou e disse: - “João,

Que fez você para vir

Aos planos de elevação?”  

- Que fiz?” – ele respondeu-

“Que poderia fazer?

Tive mulher, tive filhos,

Trabalhei até morrer.”  

Cortês, o amigo aduziu:

- “Disso sabemos, porém,

Desejamos apurar

O que fez você no bem...  

Que plantou, quando na Terra?

O que andou a espalhar?

Perdão e paz? Sacrifício?

Amou aos irmãos sem lar?”  

João explicou, entretanto,

- “Vivi sempre em compromisso,

Do serviço para a casa,

Da casa para o serviço.”  

E acentuou: - “Além disso,

Quero dizer-lhe, à vontade:

Nunca tive vocação

Para tal caridade.  

Mostrando-me sem rebuços,

Como agora me convém,

Eu nunca tive o desejo

De auxiliar a ninguém...  

Vi tanto pobre em cachaça

E tantas mulheres vis,

Que agir na beneficência

Foi trabalho que eu não quis...”  

O mentor falou: “No entanto,

Trabalho em casa, no fundo,

É lugar comum da vida,

Na vida de todo mundo;  

Família e prova, na Terra,

São tarefas, de hora a hora,

Que fez você, além disso?

Auxiliou a quem chora?  

- “Nada fiz...”- disse o coitado-

“Somente lama é o que vi...”

O mentor falou: - “Então,

Nada tem você aqui...

Volte a Terra!... Lute e sirva,

Sempre com Deus, como espero,

De vez que seu nome aqui,

Por enquanto é só João Zero.”  

a b

13 - Imprevisto

Jair Presente

A sessão seguia calma.

Harmonia e precisão.

Antonico orientava

A justa doutrinação.

Pelo médium Gabriel,

Um espírito incorporado,

Demonstrando imensa dor,

Passou ao próprio recado:

-Meus irmãos, sou um infeliz,

As culpas me custam caro,

Os meus erros foram muitos,

Imploro perdão e amparo...

Prejudiquei muitos órfãos,

Muitas viúvas lesei,

Fui um ladrão, às ocultas,

Tentando enganar a lei...

Mandei matar inimigos,

Não sei como agi assim,

Agora, desencarnado,

Minha angústia não tem fim...

Ante a pausa que se fez,

Disse Antonico, à vontade:

- E você queria o Céu

Depois de tanta maldade?

A vida que você conta

É tão imunda e tão feia,

Que não quero vê-lo aqui,

Ladrão mora é na cadeia...

O espírito, em choro alto

Desfez-se em longo lamento:

- Meu amigo, tenha dó

Do meu grande sofrimento!...

Antonico replicou:

-Não me venha rogar prece;

Quem é você que procura

Aquilo que não merece?

Clamou o comunicante:

-Infeliz do homem que cai...

Você pergunta quem sou?!...

Antonico, eu sou seu pai.

a b

14 - Lição  Do  Poço

Jair Presente

O Sol descia de manso.

Poente. Calor no ar,

O aprendiz e o professor

Estavam à beira-mar.

Ante as sentenças ouvidas,

O jovem, com atenção,

Falou ao mentor amigo

No término da lição:

- O que me dói, professor,

Ante a luz de tanto ensino,

É ser um cara “manjado”

Tão errado e pequenino.

Oro. Medito. Prometo.

Busco em Deus o meu abrigo,

Mas sofrendo tentações,

As quedas estão comigo...

Sei o que devo seguir

E faço o que não convém...

Deus é tão grande e eu “fracóide”,

Serei obreiro do Bem?

O professor disse: - “Filho,

O problema é começar...

Deus nos deu a cada um

O poder de auxiliar”.

Veio o silêncio. Fitavam

Um homem lançando rede...

Depois, o jovem clamou:

-Professor, estou com sede!...

O amigo sorriu, bondoso,

E respondeu, de alto senso:

-“Veja, filho!... Estamos sós,

Diante do mar imenso!...

Tanta água!... Tanta água!...

Que o Céu cobre com carinho!...

E agora necessitamos

Do poço de algum vizinho...”

Não longe, uma casa pobre

Deu-lhes acesso ao quintal;

O poço pequeno e limpo

Apareceu, afinal.

Terminara para os dois

A inesperada procura;

O moço fartou-se de água,

Água simples, água pura...

E disse o mentor contente,

Ao desligar-se de um jarro:

-“Cada qual pode ser poço,

Mesmo que seja de barro.”

a b

15 - Petição e Luta

Jair Presente

- Irmão Jair – explicava

Linda moça em oração-

- Preciso de seu amparo

Não posso viver sem João.

Ser mãe... Abraçar um filho,

Contente assim qual me vejo!...

Dar razão à própria vida!...

Isso é tudo o que desejo...

Peça por mim aos seus guias,

Socorra-me, caro irmão!...

E retomava o estribilho:

- Já não posso estar sem João!...

Impressionado, fui ver

O moço que ela queria;

Chamando-a “minha Maria”.

Voltei a ela e esperei-a

À noite, logo dormisse.

Fitando-a, fora do corpo,

Fraternalmente, eu lhe disse:

- Irmã, você quer um filho

E ser feliz, já se vê...

Se você gosta de João,

João é gamado em você.

Por que a separação

Com tanto anseio violento?

Vocês podem ter um filho...

Ataquem o casamento!...

Ela, então, me respondeu,

Mostrando tristeza extrema:

- Nesse ponto, meu amigo,

É que está o eu problema...

Depois, falou-me a clamar,

Com tremenda choradeira:

- Ah! Jair, ampare o João!...

Ele só me quer solteira.

a b

16 - Mais  Calma

Jair Presente

Girei hoje procurando

Uma prece por abrigo,

Sem achar pessoa alguma

Que pudesse estar comigo.  

Encontrei unicamente,

Sob tensão que não cessa,

Gente de idéia esquentada,

Gente correndo com pressa.  

É o guarda preocupado,

É o nervo do motorista,

É o caminhão fonfonando

É o motoqueiro trocista;  

É a moça buscando a feira,

É um homem fazendo as contas,

É o grito do pipoqueiro,

É um ciclista vindo às tontas;  

É a patrulha vigiando,

É um rapaz em correria,

É uma senhora com criança,

É o homem da loteria;  

É o camelô em voz alta,

É um bebum na camoeca,

É a fala do entregador,

É o tan-tan da discoteca;  

É o apito de um gaiato,

É o carro do verdureiro...

Gente correndo e gritando,

Foi assim o dia inteiro.  

Eis porque a cada amigo

Rogo pensando no bem:

- Meu irmão, tenha mais calma,

Não embanane a ninguém  

a b

17 - Lição  da  Mariposa

Jair Presente

A mariposa de longe

Nota a chama que a seduz,

Ante a fina vela acesa,

Ela deseja mais luz.

A princípio, voa incerta,

Sobe ao teto e desce à mesa,

De perto, a luz lhe parece

Um lar de amos e beleza.

Aproxima-se encantada,

Sente-se forte e aquecida,

Não mais o frio da sombra,

Ali, é calor e vida.

Embriagada de sonhos,

Atende a impulsos fatais,

Quer a doce labareda,

Abordando-a mais e mais...

Por fim, penetra na chama

Que a fascina e reconforta,

Crê achar felicidade,

Entra na luz e cai morta.

Somos assim... Se buscamos

Somente o que nos agrade,

Queimamos o tempo e a vida,

Em nome da liberdade.

a b

18 - O  Conselho  do  Guia

Jair Presente

Era um problema difícil

O Joaquim da Piedade,

Tão – logo lhe fora entregue

A própria mediunidade.

Fosse o assunto qual fosse

De tristeza ou de alegria,

Conclamava os companheiros:

-“Busquemos saber do guia.”

O grupo se congregava

E as perguntas de Joaquim

Surgiam encadeadas,

Qual inquérito sem fim.

Queria saber, as certo,

O porquê da luta humana,

Qual influência dos astros

No horóscopo da semana.

Indagava sobre as rosas

Que lhe floriam no lar,

Se devia transferi-las

De posição ou lugar.

Quanto à esposa, quase mãe,

Tinha sempre um caso a ver

E questionava o mentor

Sobre a criança a nascer.

Comprara um sítio não longe,

Pensando em veios de mica,

Queria saber se a terra

Era mesmo pobre ou rica.

Inquiria sobre tudo

O que lhe dava na telha,

Até se devia usar

Camisa branca ou vermelha.

Toda a equipe acompanhava

Ora serena, ora fula,

As perguntas infindáveis

Do companheiro especula

Até que chegou o dia

Em que o mentor da sessão

Falou-lhe: -“Joaquim, agora,

Já chega de indagação.

Um amigo desencarnado

Vive na ação e no estudo,

Só porque saiu da Terra,

Não é doutor sabe-tudo.

Se você quer colher frutos

Celestiais ou terrenos,

Estude sem descansar,

Sirva mais, pergunte menos.

Para todos nós aqui

Se quisermos melhorar,

Ante a lei justa de Deus,

O caminho é: - trabalhar.”

a b

19 - O  Melhor  do  Melhor

Jair Presente

O que faz de melhor

Em meio a tantas crises?

Eis, irmão, todo o resumo

De tudo quanto me dizes.

E você me expõe à mente

O que se passa na Terra:

Contínuas calamidades

E os tristes quadros da guerra;

Os acidentes cruéis

No mundo desajustado;

As provações a varejo

E as mortes por atacado;

Ações da vida selvagem

Que o próprio homem celebra;

O machismo e o feminismo

Com vários crimes de quebra;

As procissões dos protestos,

As ambições incontidas;

A revolta anuviando

O clima de muitas vidas;

Os corações desolados,

Ontem crentes, hoje ateus,

Formando grupos rebeldes

A perguntarem por Deus...

O que fazem de melhor

Para o cultivo do bem?

Pensar muito e falar pouco,

Sem desprezar a ninguém.

Mas o melhor do melhor

É caminhar, meu irmão,

Seguindo as lições do Cristo

Na vida e no coração.

a b

20 - O  Recurso

Jair Presente

Confirmo, prezado amigo.

Recebi o seu recado,

Entretanto, o seu bilhete

Deixou-me baratinado.

Você me fala de angústia,

De tempo hostil e violento,

De males e dificuldades,

De aflição e sofrimento;

De promessas não cumpridas,

De rixas e desenganos,

De ocorrências infelizes,

De delitos desumanos;

De frustrações e fracassos,

De palavras sem ação,

De crises e de problemas

Que surgem sem solução.

Afinal, você me escreve

Amargoso relatório,

Como se a Terra lhe fosse

O fundo de um purgatório.

O que posso responder

Aos seus informes extremos

É que nós todos estamos

Nas estradas que fizemos.

Das existências passadas,

Temos dívidas em bando...

Quantas são? Isso não sei;

E a quitação? Não sei quando...

Mas sei que para nós todos,

Ai e em qualquer lugar,

Para a melhora de vida

O recurso é trabalhar.

a b

21 - Prazer  e  Fé

Jair Presente

Muitos amigos na sala.

O grupo estava a fé,

Quando um rapaz galhofeiro

Ergueu-se e falou de pé:

- Meus irmãos, estamos nós

Num tempo que avança e pensa...

Para que religião?

Ninguém precisa de crença.

Já voamos para a Lua

Tudo é progresso a crescer...

Para que alma e oração?

A vida é instinto e prazer.

Meditação, serminário,

Renúncia e filosofia?

A eletrônica nos mostra

Que isso tudo é velharia.

Altruísmo é boa bola,

Caridade é uma ilusão...

Prazer é a força que anima,

Dinheiro é a dominação

Vida íntima? Bazófia,

Bobagem ultrapassada,

Larguemos questões de fé,

A vida é corpo e mais nada.

Mas um velho levantou-se,

Aproveitando o intervalo

E respondeu: Meu amigo,

Não posso contraditá-lo.

No entanto, rogo ao senhor

Que nos mostre, se possível

Um de seus carros modernos,

Andando sem combustível.

a b

22 - Prece  de  um  Rapaz  que  a  Morte  Mudou

Jair Presente

Agradecemos Senhor,

Nossa vida tal qual é,

A nossa busca de paz,

A bênção de nossa fé;

O apoio dos companheiros

Que nos estendem as mãos,

Pelos quais reconhecemos

Que todos somos irmãos;

Os próprios adversários

Agradecemos também,

Nossos benditos fiscais

Na Terra e no Mais Além;

Auxilia-nos, Senhor,

A suportar a topada,

O golpe, o tropeço e o tranco

Que nos esperam na estrada;

Por toda desilusão

Que o tempo nos ofereça,

Pela força do problema

Que nos esquente a cabeça;

Por tudo quantos nos dás,

Em forma de espinho e dor,

Melhorando-nos a vida,

Louvado sejas, Senhor!...

a b

23 - Não  Se Queixe

Jair Presente

Se você tem os pés livres

Para agir e caminhar,

Movendo-se como quer

Por dentro e fora do lar;

Se dispõe de mãos seguras

Para assumir compromisso,

Na rotina abençoada

Que assinala o serviço;

Se você consegue ver,

Com clareza de atenção,

Ouvir e compreender

Ante a própria obrigação;

Se tem a palavra fácil

Em que o verbo se condensa,

Expressando para os outros

O que deseja e o que pensa;

Se consegue alimentar-se

Mesmo com pobre iguaria,

Garantindo o próprio corpo

Pelo pão de cada dia;

Então, de nada se queixe...

Com trabalho, bem se vê

Que a luz da felicidade

Já reside com você.

a b

24 - Queria  Ser  Médium

Jair Presente

Ele queria ser médiuns...

Pôs-se então a procurar

O que fosse de melhor

Em companhia e lugar. 

Exigia equipe culta,

Queria um grupo, a preceito,

Em que o trabalho, de pronto,

Surgisse claro e perfeito. 

E começou a jornada

Para a exata descoberta,

Andou, suou, pesquisou...

Sem achar a casa certa. 

Aqui, notava ciúme,

Ironia e desapreço,

Nessa ou naquela pessoa

Que o feriam de começo; 

Ali encontrava um médium

Que conhecera na praça,

Com quem, há tempos, bebera

Muito copo de cachaça. 

Além, vira um conhecido

Que tivera luta feia...

Fora rapaz de mão grande

Com passagem na cadeia. 

Mais além, ouvia queixas

E lindas notas em vão,

Orgulho, rixa, revolta,

Barulho e condenação. 

Certa noite, repousou,

Cansado de insegurança,

Estava desanimado,

Perdera toda esperança. 

Mas desligado do corpo,

No mesmo quarto em que estava

Notou-se à frente de um guia:

-O mentor que mais amava... 

- Ah! Meu guia!... – ele exclamou-

Trago a mente em desalinho,

Quero servir a Jesus

Mas não encontro caminho... 

Que fazer, amigo amado?

Por onde a luta me leva?

Qualquer grupo que visito

Demonstra sinais de treva!... 

O Guia disse, bondoso,

Depois de estender-lhe as mãos:

-Filho, recorda!... Jesus

Não veio curar os sãos. 

Cala-te e volta ao serviço,

De coração satisfeito;

Quem segue o Divino Mestre

Não vê mancha, nem defeito. 

Só queres irmãos no mundo,

Sem o mínimo labéu!...

Isso é no grupo dos anjos

E os anjos moram no Céu.

a b

25 - Recado  de  Irmão

Jair Presente

Amigo, no Mais Além,

Distante do antigo passo,

De modo a ver-te contente,

Eis os votos que hoje faço.

Que a paz te resguarde nesta:

Mais sentir do que saber,

Deus te livre da paúra

De ficar no que fazer.

Que saibas correr, a tempo,

Da lábia de qualquer bicho

E o Céu te arrede das bocas,

Seja do luxo ou do lixo.

Procura viver alegre,

Sem galho, briga ou lembrança,

Deus te livre do perigo

Da parada em maré mansa.

Deus te livre de pessoa

Que te aperta ou desanima,

De homem passarinheiro,

De mulher sem roupa em cima.

Conserva a boca distante

De bicaria e trapaça,

Que a vida te guarde longe

Da erva, grude e cachaça.

Que naquilo que não saibas

Nunca metas o nariz

-Eis os meus votos de irmão,

A fim de ver-te feliz.

a b

26 - Recado  de  Amigo

Jair Presente

Não se amedronte. Prossiga

Em seu trabalho no bem.

Prestando serviço a todos

Não menospreza a ninguém.

Cultive perdão e amor

Esqueça qualquer espinho...

Tribulações e problemas

Isto é de todo caminho.

Se você caiu em falta,

Para erguer-se, volte atrás.

Só não erra neste mundo

Aquele que nada faz.

a b

27 - Seguir a  Jesus

Jair Presente

Quem queira seguir Jesus,

Em seus ásperos caminhos,

Não há de fugir-lhe à cruz,

Toda formada de espinhos.

Alguém talvez interrogue:

-“Esses espinhos quais são?”

E os entraves da jornada

Fornecem explicação.

É a lágrima de quem pede,

É o sarcasmo do descrente,

É o logro do obsessor,

É a vaia de muita gente;

É a doença imaginária,

Sem trato que nos atenda,

É a tentação enfeitada

Que parece de encomenda;

É a crítica do inimigo,

É o tapa do ignorante,

É a tesourinha das trevas

Que nos corta a todo instante;

É o vinagre da conversa

De quem não deseja a paz,

É o cochicho venenoso

De quem censura e não faz;

É o irmão desesperado

Que nos procura, a berreiro;

É a discussão agitada,

É a fuga de companheiros;

É a briga na parentela,

Criando desilusão;

É a hora do desalento

É o dia da solidão.

Meditemos nesse assunto:

Observar é dever.

Quem queira seguir Jesus

Tem muito espinho a vencer.

a b

28 - Trânsito

Jair Presente

Já não me vale este rolo

Que me nasce do bestunto,

Agora desencarnado

Não mais estou neste assunto.

É uma amigo que me escreve

Na bondade a que se aferra,

Solicita que eu lhe escreva

Sobre o trânsito na Terra.

Do que enxergo no problema

Não tenho dica que agrade,

Movimento muito grande

Aumenta a dificuldade.

Guiar máquinas demanda

Muito cuidado e carinho,

Basta lembrar o pampeiro

Dos entraves do caminho...

Em toda e qualquer parada,

Buzina grita em geral,

É a pessoa irrefletida

Que não atende a sinal.

É o passante distraído,

Meninos jogando bola,

É um bebum cambaleante,

Doentes pedindo esmola.

É o buraco escancarado

Que se aprofunda e se amplia,

São ciclistas no balé,

São motos em correria.

Aqui, respondo ao amigo

Que esta consulta me faz:

-  Não cochile no volante,

Nem largue o freio, rapaz!...

a b

29 - Zebras

Jair Presente

Em nossa terra de agora,

Por força da loteria,

A zebra é que representa

Os fracassos de hoje em dia.

De minha parte, ignoro

Qual a razão do sinal

Com que se marcou assim

O pobre desse animal.

Mas, já que estamos no assunto

Que não sei de onde provém,

Posso dizer com certeza

Que há muita zebra no Além.

Uma delas é a preguiça

Que nos atira na fossa,

Outra á carango sem freio,

Outra ainda é a farra grossa.

Temos aqui outras tantas,

Capim mimoso, trapaça,

Mão grande, conversa mole,

Bolinha, erva e cachaça.

Para contar tantas frias

Preciso verbo mais forte,

São piores que as do mundo

As zebras depois da morte.

a b

fim